Numa mesa redonda organizada pela FundsPeople no evento O Futuro dos ETF, o responsável de estratégia na State Street Global Advisors analisa quais são os fatores de crescimento que, na sua opinião, continuarão a potenciar o negócio dos fundos cotados.
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Para Antoine Lesné, a indústria de ETF é afortunada. “Nunca teve um ano negativo em termos de fluxos”, sublinha. Nem sequer em momentos difíceis de mercado. “2022 foi o quinto melhor ano do ponto de vista da captação de ativos. Com 88.000 milhões de dólares de entradas líquidas pode parecer um ano mau em comparação com o que estamos habituados. Mas o contexto era muito difícil. Em 2023, com um cenário em que ainda existe muita incerteza, a indústria de ETF já captou 66.000 milhões. Não está a ser um mau ano, tendo em conta que nem sequer sabemos se nos encaminhamos para uma nova recessão económica”.
Essa foi uma das muitas reflexões partilhadas pelo responsável de Estratégia na State Street Global Advisors numa mesa redonda organizada pela FundsPeople no âmbito do evento O Futuro dos ETF, que também contou com a participação de Travis Spence, responsável de Distribuição de ETF para a Europa na J.P. Morgan AM; Stefan Kuhn, responsável de Distribuição de ETF para a Europa na Fidelity International; e Guido Stucchi, responsável de clientes de ETF e Produtos Indexados na BNP Paribas AM. Apesar do favorável número de captações líquidas em 2023, Antoine Lesné reconhece que muito desse volume é investido de forma cautelosa, uma vez que apenas 33.000 milhões foram para ações.
Isso deve-se, em grande medida, ao facto das obrigações estarem de volta. “Oferecem cupão e isso está a fazer com que os ETF de obrigações estejam a atrair grande parte das captações líquidas. Este ano, estamos a contabilizar fluxos de 27.000 milhões em ETF de obrigações. E uma boa parte desse valor foi para obrigações do Tesouro ou estratégias muito ligadas à dívida pública. Além disso, estamos a assistir a fluxos para fundos cotados de dívida corporativa com investment grade, o que demonstra uma alocação mais cautelosa dos investidores. No atual contexto, a maioria das casas são relativamente prudentes e a nossa visão está muito em linha com o consenso”, explica.
Para o futuro, no que diz respeito aos motores de crescimento dos ETF, Antoine Lesné considera que já não é apenas uma questão de baixo custo. Cita como elementos muito importantes a extrema transparência e clareza dos processos. “Temos acesso a toda a informação. Tudo o que se tem de fazer é descarregar as participações para o computador para saber se o produto se ajusta aos nossos parâmetros. É algo muito evidente no que diz respeito ao ESG. Embora este ano tenhamos assistido a menos fluxos neste espaço, metade dos 33.000 milhões captados pelos ETF de ações foram para estratégias sustentáveis, um dado melhor do que o verificado nos últimos anos”.
A sustentabilidade tornou-se um dos grandes desafios para a indústria de gestão de ativos. E isso também afeta a indústria dos ETF. Sobretudo porque a regulação vai evoluindo. “Inicialmente, quando foi criado, um produto podia ser Artigo 9º para posteriormente deixar de o ser. Em agosto de 2021, a regulação mudou e já não se pode classificar um ETF climático Paris Alligned Benchmark como Artigo 9º. Enquanto a definição do que é investimento sustentável não for clara, estamos a tentar capturar uma miragem. É um desafio para todos. Mesmo um índice de obrigações verdes pode nem sequer ser Artigo 9º se o provedor não estiver seguro disso”.
Para o cliente, as consequências são evidentes. “Imaginem que gerem um fundo de fundos que se supõe ser Artigo 9º e, de repente, 20%, 40% ou 90% dos fundos que tinham em carteira já não são Artigo 9º… Assim, a primeira coisa a fazer é compreender e ter uma definição comum. Mas é preciso tempo para encontrar os elementos comuns. Uma vez superado esse primeiro passo, passaríamos para uma segunda questão, centrada na análise das diferenças entre os diferentes produtos, em saber se são os melhores da sua classe, se existe outra abordagem nessa categoria… Por agora, cada casa implementa as suas próprias práticas ESG. Acredito que é a categoria de ativos a longo prazo”.
Para Antoine Lesné, o debate já não gira em torna da gestão ativa vs. gestão passiva. Vai além disso. É uma questão que transcende as vantagens do veículo, algo que - na sua opinião - se torna mais relevante em momentos de stress do mercado. “Estamos a ver isso em obrigações. A crise de 2020 democratizou definitivamente o uso de ETF de obrigações. Muitos detratores destes produtos diziam que não seriam negociados, que não teriam preço. E aconteceu o contrário. Negociavam com desconto, mas tinha um preço. Agora, são os ETF ativos de obrigações que estão a ganhar destaque. Estamos a assistir a isso nos Estados Unidos, com fluxos que começam a ser significativos”, afirma o especialista.
Desde a sua criação, a indústria de ETF tem vindo a duplicar o património gerido a cada cinco anos. Algumas estimativas sugerem que, em 2027, a sua dimensão será de 20 biliões de dólares a nível global. As projeções da Bloomberg apontam para 30 biliões para 2030. Mas este crescimento não será apenas proveniente dos fluxos de entrada. Segundo Antoine Lesné, virá também da transformação de alguns fundos ativos, que serão agrupados sob o invólucro de ETF, precisamente devido a todas as vantagens do veículo. “Não serão apenas os fluxos, mas também a transformação”, prevê o responsável de Estratégia na State Street Global Advisors.