O resumo do que foi dito no evento O Futuro dos ETF

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Créditos: FundsPeople

Este ano celebra-se o 30.º aniversário do nascimento do ETF como veículo de investimento. Desde 1993, o produto em si sofreu uma evolução muito significativa, tanto em termos de classes de ativos representados como de estilos de gestão. Mas, o mais importante, é que o fundo cotado tem ganho gradualmente a confiança dos investidores, sobretudo em momentos de turbulência nos mercados. Assistimos a isso na crise financeira, na crise do euro e novamente no ano passado, quando os ETF registaram captações líquidas de 80.000 milhões de euros na Europa, em comparação com 244.000 milhões de saídas que os fundos de gestão ativa registaram. 

Esta foi uma das reflexões comentada no evento O Futuro dos ETF organizado pela FundsPeople, onde fornecedores de ETF (como a J.P.Morgan AM, a Fidelity, a State Street ou a BNP Paribas AM), clientes (como a BBVA Quality Funds, a Fonditel e a gestora de patrimónios portuguesa Golden Wealth Management), plataformas digitais (Trade Republic e MyInvestor) e provedores de índices (S&P Dow Jones Indices) analisaram, a partir dos seus respetivos ângulos, a situação atual de uma indústria que se agarrou com sucesso à máxima “o que se vê é o que vai obter” sem ter dado grandes dores de cabeça aos investidores. Começaram por entrar no mercado de ações e agora fazem-no através de obrigações.

“Embora seja necessário estudar cada vez mais o veículo que se está a comprar para compreender a sua conceção e não só o rótulo que tem, os ETF são uma boa forma de se aproximar aos índices de obrigações de forma simples e eficiente”, afirma José Céron, responsável de Multiativos na Fonditel. Para ele, os ETF são muito úteis para construir os building blocks das suas carteiras. E também para a parte tática, com o objetivo de introduzir enviesamentos. O mesmo faz a Goldem WM. “Utilizamos os ETF para construir blocos nas nossas convicções e também para abordagens táticas. São ideais para serem reativos”, indica Luís Mateus, responsável de Obrigações da gestora de patrimónios portuguesa.

A sustentabilidade tornou-se outro dos grandes motores de crescimento da indústria. “Será a classe de ativos a longo prazo, também em formato ETF”, prevê Antoine Lesné, responsável de Estratégia na SPDR. A BBVA Quality Funds, por exemplo, criou em 2021 uma metodologia de avaliação dos veículos de terceiros de gestão ativa, gestão passiva e mercados privados com um rating próprio. “Nos últimos anos temos reforçado muito o catálogo de sustentabilidade. Neste caminho, alguns dos nossos clientes institucionais estão a mudar para índices CTB (índices elegíveis denominados Climate Transition), sobretudo em ações”, comentava Gisela Medina.

As palavras da responsável da Equipa de Seleção da BBVA Quality Funds mostram que o caminho que a indústria tem pela frente em matéria de sustentabilidade apresenta desafios. Um deles ficou claro quando Gisela Medina instou todas as casas a oferecer mais produtos na parte da transição. “Também com os CTB de obrigações”, exigiu. Outro, quando Antoine Lesné mencionou o quadro regulamentar. “Um produto lançado como Artigo 9º pode deixar de o ser. Em agosto de 2021, a regulação mudou e já não se podia classificar um ETF climático Paris Alligned Benchmark como Artigo 9º. Enquanto a definição do que é investimento sustentável não for clara, é tentar capturar uma miragem”, alertou.

Guido Stucchi, responsável de clientes de ETF e Produtos Indexados na BNP Paribas AM, acredita que melhoria dos dados irá ajudar no futuro. “Se a CSRD obrigar as empresas a revelar dados financeiros de forma mais detalhada, isto dará aos analistas ESG as ferramentas que precisam para realizar um melhor estudo e uma melhor classificação. Isto ajudará a desenvolver produtos com um menor nível de incerteza sobre as características do próprio produto. Mas ainda há muito trabalho a fazer. Como a definição completa dos critérios técnicos da taxonomia, para que todos possam trabalhar num ambiente mais confortável na hora de distribuir produtos ESG”. 

São cada vez mais as vozes que sublinham a necessidade de a indústria dar um passo atrás. É algo com que as gestoras e os seus clientes concordam. “Houve uma altura em que assistimos a reclassificações de Artigo 6º para 8º e, especialmente, de 8º  para 9º, sem que houvesse uma mudança substancial nos produtos. Este passo atrás, enquanto indústria, faz-nos acreditar muito mais no que estamos a fazer. Significa que quando um investidor compra um fundo Artigo 9º, sabe que se trata realmente de um fundo Artigo 9º”, afirma José Cerón. “Se olharmos para os últimos 12 meses, quanto tempo passamos a debater com os nossos clientes se um fundo é Artigo 8º, 9º, porque é que é, se o reclassificamos ou não?”, questionava Stefan Kuhn.

O responsável de Distribuição de ETF para a Europa na Fidelity International considera que a regulação é necessária. “Está a evoluir e devemos dedicar-lhe tempo. Mas, como indústria, temos de dar um passo atrás. Perdemos a noção do que realmente precisamos de fazer. Temos de nos comprometer com os nossos clientes para averiguar o que realmente querem fazer. É o que estamos a ver este ano. Dos 70.000 milhões de captações líquidas registadas este ano em ETF, cerca de 40.000 foram para estratégias Artigo 6º. Trata-se de saber o que faz o fundo, de análise do índice e da carteira”, afirmou o especialista na sua participação.

Outro dos principais motores que impulsionará o crescimento da indústria são os ETF ativos, que estão a crescer. “No final do ano passado representavam cerca de 5% do total nos Estados Unidos. No entanto, captaram cerca de 15% dos fluxos líquidos em 2022. Este ano a tendência acelerou. Atualmente, já representam cerca de 6% dos ativos. Mas esses 6% estão agora a receber 33% dos fluxos líquidos”, afirmou Travis Spence. Na Europa, o responsável de Distribuição de ETF para a Europa na J.P. Morgan AM reconheceu que o desenvolvimento dos ETF ativos está a ser mais lento. “Atualmente, os veículos em formato UCITS, que representam 2% do total, estão a absorver 6% das entradas líquidas”.

E ainda os temáticos. Com um crescimento anualizado de 22% na última década, tem sido um boom. A verdadeira explosão deu-se em 2020 e acentuou-se ainda mais em 2021. No ano passado, em linha com a forte correção dos mercados, o ritmo de crescimento do património diminuiu, mas continua muito acima dos níveis de 2019. Para Vidushan Ragukaran, diretor de Thematic Indices da S&P Dow Jones Indices, há dois fatores claros que explicam esta favorável evolução: o aparecimento de grandes temas (avanços tecnológicos, desafios relacionados com o clima e alterações demográficas e sociais) e a capacidade do setor para medir mais eficazmente esses grandes temas.

Mas o que será, sem dúvida, um motor determinante para o crescimento da indústria de ETF é o aparecimento de novos canais digitais, como os representados pela Trade Republic ou pela MyInvestor, onde o veículo ETF está cada vez mais presente. “Começamos a distribuir ETF porque é um produto que complementa perfeitamente a nossa montra de fundos, onde os fundos indexados têm um peso importante. Muitos clientes queriam investir em certos ativos que não eram oferecidos pelos fundos tradicionais”, revela Ignasi Viladesau, diretor de Investimentos da MyInvestor. Segundo Antón Diez Tubet, gestor Regional de Alianças Estratégicas da Trade Republic, os ETF continuarão a crescer nos próximos anos.

“O problema da acessibilidade dos ETF está resolvido. Agora, o que é preciso resolver é o gap educativo. Esta lacuna não permite que os clientes se considerem capazes de tomar decisões de investimento, razão pela qual recorrem a carteiras geridas ou ao aconselhamento. Aqui vemos uma oportunidade para ajudar. Uma vez resolvido este problema educativo, é natural que comecem a utilizar mais estes produtos devido à sua simplicidade e baixo custo”, conclui Antón Diez Tubet. Este é o resumo do que foi dito no evento O Futuro dos ETF, um fórum que este ano reuniu gestoras, investidores, plataformas digitais e provedores de índices.