Nos últimos 10 anos, qualquer gestor de fundos que tente ultrapassar o S&P 500 terá dado conta de que qualquer detenção de dinheiro, exceto em alguns períodos breves e discretos, foi um fator detrator significativo da rentabilidade.
Deve o gestor de um fundo manter de forma estrutural altos níveis de liquidez na sua carteira? As razões pelas quais os saldos de caixa não são nulos variam. Por vezes, são técnicas. Por exemplo, pode haver um saldo de caixa temporário após uma grande entrada, em antecipação de uma grande saída, devido a uma ordem de compra parcial ou não executada, resultante de uma subida de preços ou limitações de negociação por percentagem de volume.
Ocasionalmente, no entanto, um pequeno saldo de caixa pode ser tático. Mesmo quando as valorizações são atrativas, pode considerar-se que fatores tais como notícias ou sentimentos, especialmente os negativos, podem fazer com que os preços baixem a curto prazo, e, como resultado, o gestor pode decidir manter um pequeno saldo de caixa. Essencialmente, trata-se de apostas sobre uma probabilidade maior do que igual de debilidade do mercado a curto prazo.
No entanto, Jonathan Pines, gestor na Federated Hermes, reconhece que são apostas difíceis de ganhar. “O sentimento pode mudar rápida e imprevisivelmente. A longo prazo, não investir plenamente durante um período significativo é quase seguramente uma estratégia perdedora, porque os mercados tendem a subir com o tempo”.
Tomando como exemplo o mercado de ações americano, observa que, nos últimos 10 anos, o S&P triplicou. “Qualquer gestor de fundos que tente ultrapassar este índice de referência terá dado conta de que qualquer detenção de çiquidez, exceto em alguns períodos breves e discretos, foi um fator detrator significativo da rentabilidade. A nossa própria contribuição negativa do dinheiro desde o início foi 0,2% anual, um encargo não tão insignificante para a rentabilidade”.
Alguns clientes, compreensivelmente, não veem com bons olhos o facto de os gestores manterem um saldo de caixa não trivial. Afinal de contas, ao investir no fundo, poderão argumentar que já decidiram entrar numa posição longa, e não querem que a sua decisão cuidadosamente considerada seja diluída. “O seu papel consiste em obter melhores resultados do que o índice de referência, e não questionar a nossa opinião sobre a própria classe de ativos”, poderão dizer.
“E têm razão. No entanto, acreditamos que uma parte importante do ADN dos gestores de fundos de êxito é ser capaz de manter (pelo menos) duas ideias na cabeça simultaneamente. O otimismo sobre a relação preço/valor de uma ação deve ser acompanhado por uma sensação de receio sobre o que poderá correr mal. A convicção a longo prazo deve ser forte, mas nunca absoluta”.
A linha que separa a confiança do excesso de confiança é ténue. “Há muitas variáveis que podem sabotar a melhor tese de investimento. A convicção deve ser acompanhada pelo reconhecimento humilde de que, mesmo que a tese de investimento seja sólida (e os fatores descendentes não interfiram negativamente), especialmente a curto prazo, tudo é possível. Negociamos com probabilidades, um jogo de azar, no qual acreditamos ter vantagem”.
A nível de carteira, mesmo quando as valorizações são atrativas (como acreditamos que tem sido para a nossa classe de ativos durante muito tempo), a tensão entre a oportunidade e a incerteza está sempre presente. “E uma paranoia digna de crédito, inclusive no contexto de valorizações baratas, pode, com ou (normalmente) sem razão, encontrar a sua expressão sob a forma de um pequeno saldo de caixa temporário”.
Assim, mesmo sabendo que qualquer saldo de caixa irá, provavelmente, prejudicar o retorno a longo prazo, dado que a maioria dos gestores de fundos estão sempre programados para controlar o seu otimismo, pode ser psicologicamente difícil estar sempre numa posição longa a 100%.
“Admitimos que esta condição de pequeno saldo de caixa ocasional também nos afeta. A nível de carteira, a detenção de liquidez (salvo quando se deve a fatores técnicos) tende a refletir a tensão entre a oportunidade de valorização, por um lado, e a incerteza a curto prazo, por outro”, conclui.