Há ainda algum nicho de ações com preços razoáveis?

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FernandoPaoliello, Flickr, Creative Commons

Recapitulemos: até à semana de 20 de novembro de 2017, o S&P 500 tinha acumulado um avanço de 17,3% ao ano e o MSCI Europe de 12,1%. O Ftse Mib é o mercado mais rentável da Zona Euro, com um avanço de 18.3% ao ano, enquanto o MSCI Emerging Markets e o MSCI China avançam respetivamente 30,2% e 55,9%. Considerando o quão altas estão as valorizações e a extraordinária duração do ciclo de crescimento atual, a pergunta é óbvia: há ainda algum nicho de ações com preços razoáveis?

Gabriela Santos, especialista global de mercados da J.P.Morgan AM, recorda que a grande novidade que 2017 trouxe em relação aos anos anteriores foi o pior comportamento das ações americanas em relação às restantes ações mundiais: em finais de outubro, o MSCI All Country World Index sem os Estados Unidos ultrapassava o S&P 500 em 8%.

Esta diferença levou muitos investidores a questionar se teriam chegado tarde à festa. A especialista tem uma boa notícia: “Acreditamos que ainda estamos nas primeiras fases de rentabilidade das ações internacionais. Comparando o comportamento das ações norte-americanas e das ações internacionais desde a grande crise financeira, é evidente que o recente movimento de crescimento é apenas um grão de areia no deserto”, afirma a especialista. Esta recorda que a bolsa norte-americana tem uma vantagem acumulada de 150% face aos seus comparáveis internacionais, que ainda não conseguiram recuperar os níveis anteriores à crise.

A segunda boa notícia é a força dos fundamentais, refletida em quatro fatores: crescimento, lucros, valorizações e divisas. “A economia global finalmente voltou a crescer, com mais de 90% de economias a viver uma aceleração no crescimento”, detalha a especialista; num contexto em que alguns países começam agora a crescer, os Estados Unidos vão já para o nono ano de expansão económica.

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Santos sublinha que a melhoria económica está a refletir-se nos lucros corporativos internacionais, que estão a crescer mais rapidamente do que os norte-americanos. Para além disso, as valorizações apontam para “um maior potencial de subida fora dos Estados Unidos, com as ações internacionais a cotar com um desconto face aos Estados Unidos muito próximo dos máximos históricos dos últimos 15 anos".

A especialista aponta em último lugar o impacto positivo da debilidade do dólar, impulsionado pelos retornos institucionais ao longo do ano. Acredita que esta tendência “é apenas o começo de um maior movimento de descida”.

A especialista da J.P.Morgan AM conclui que “ainda há oportunidades nas ações norte-americanas, mas os investidores devem deixar os medos de lado e comprar um bilhete de avião, especialmente até à Zona Euro e algumas partes dos mercados emergentes”.

Ainda há ativos subvalorizados?

A partir da PIMCO, o analista de crédito Ray Huang e o gestor Nicholas Johnson acreditam que resta pelo menos um sector de ações subvalorizado: os REITs. Referem o seguinte dado: apenas este ano, os retornos totais do Dow Jones U.S. Select REIT Total Return Index são inferiores ao S&P 500 em 11%.

Para os especialistas, a grande oportunidade para gerar alfa vem da alta dispersão entre os diferentes subsetores que compõem o universo dos REITs. “Nos últimos 23 anos, a dispersão dos retornos entre o melhor e o pior quartil foi de 29% por sector e de 43% por empresa. Portanto, pensamos que a seleção ativa das ações e por sectores dentro de uma base ajustada ao risco é primordial”, afirmam.

Huang y Johnson referem mais dados para sustentar a sua teoria. Por exemplo, o retorno médio que poderá gerar um centro comercial médio, presente na carteira de ativos de um REIT, ascende atualmente a cerca de6%, “ou 130 pontos base acima do rendimento de uma carteira de obrigações high yield e com grau de investimento” (têm como referência os índices Moody’s Corporate Baa Bond Index e Bank of America Merrill Lynch High Yield Index).

Outra forma que os especialistas têm para calcular quão atrativos são estes veículos é comparando-os com a rentabilidade real de outros ativos financeiros, que se medem mediante uma combinação de rendimentos das obrigações norte-americanas ligadas à inflação (TIPS) e os prémios de risco das ações e o crédito. Conclui que, quando a rentabilidade dos fundos ajustados das operações (AFFO) supera a desses três componentes, então os REITs estão subvalorizados. “Durante os últimos 20 anos, por cada 10 pontos base mais baratos ou mais caros neste modelo, os retornos subsequentes dos REITs nos 12 meses seguintes foram 180 pontos base mais altos ou 70 pontos base mais baixos, respetivamente”, explicam. Comentam que o spread atual é de 80 pontos base – a média, a longo prazo, é de 15 pontos – muito próximo dos máximos registados em junho de 2004. Nos 12 meses posteriores, os REITs geraram um rendimento de 35% e ultrapassaram o S&P 500 em mais de 25% de rentabilidade.

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Outra mar onde os investidores ainda podem pescar alguma rentabilidade é nas pequenas capitalizações a nível global, tal como refere a partir da Royce & Associates (Legg Mason Global AM) o gestor David Nadel. Este diz que os investidores tendem a subestimar esta classe de ativos: “Os investidores ficam frequentemente surpreendidos com a qualidade dos negócios subjacentes. Penso que esta classe de ativos oferece um prémio de qualidade”, afirma. Refere-se ao facto de, tendo em conta o seu menor tamanho, muitas das empresas que compõem o universo small caps global operarem como autênticas multinacionais, parecendo ainda apresentar um “fortíssimo sentido de permanência”, que se traduz num management estável e duradouro que tende a preocupar os seus acionistas: “Muitas empresas devolvem muito dinheiro aos seus acionistas em forma de dividendos”, contata Nader.

Nader afirma que também existem falsas perceções em torno do perfil de risco destas ações, menos voláteis do que aparentam: “Estatisticamente, é uma classe de ativos que apresenta um desvio padrão superior às small caps norte-americanas. É comparável com as grandes capitalizações internacionais. Em termos ajustados ao risco, é superior a ambas”. De facto, o gestor destaca que estas ações são capazes de ultrapassar as grandes capitalizadas internacionais “tanto em contextos de taxas em alta como em baixa, mas a diferença em termos de rentabilidade é superior num contexto em que as taxas estão a subir”.