Julien Eberhardt (Invesco): “É um bom momento para aumentar moderadamente a duração nas carteiras”

Julien Eberhardt. Créditos: Cedida (Invesco)

Depois de um 2022 excecionalmente mau para as obrigações, Julien Eberhardt esperava que este fosse o ano da forte recuperação do mercado de obrigações. Não é o caso. Pelo menos, não tão forte como o gestor do Invesco Euro Corporate Bond e do Invesco Global Total Return Bond, ambos com Rating FundsPeople 2023, esperava. De facto, está a ser um ano difícil para fazer previsões. “O mercado não apresenta uma direção clara e há muita volatilidade. Começamos o ano com 70% dos economistas a prever uma recessão, depois passaram a falar de um soft landing e agora de estagflação. As coisas estão a mudar rapidamente”, recorda. 

Num almoço com clientes em Madrid, em que também participou Lewis Aubrey-Johnson, diretor de Produtos de Obrigações da Invesco, Julien Eberhardt sublinhou que a liquidez que havia no sistema está a contrair-se, o que, na sua opinião, acabará por ter impacto na atividade económica. “Além disso, os indicadores de sentimento de países como a Alemanha também se estão a deteriorar e apontam na mesma direção, tanto devido à influência negativa da China, como ao endurecimento da política monetária aplicada pelo BCE. Não sabemos quando acabará o ciclo de subidas de taxas, mas o que é claro é que estamos perto do pico”. 

No entanto, o que é realmente importante no seu trabalho é identificar as obrigações que devem comprar e em que setores têm, ou não, de estar. E aqui vê as coisas com muito mais clareza, porque agora o mercado está a oferecer-lhe alavancas importantes para construir a carteira. Cita como exemplo a dívida pública. “Funciona como uma fonte segura de income, que permite construir a carteira”. E não é apenas isso. Noutros segmentos, como o crédito com investment grade, é possível encontrar boas empresas com yields entre 3,5% e 5% e um risco de crédito limitado. Em dívida sénior bancária, por exemplo, há emissões de entidades europeias com balanços muito sólidos, com yields entre 4-5%”, sublinha. 

As alterações mais importantes introduzidas nas carteiras

Na gestão do Invesco Euro Corporate Bond e do Invesco Global Total Return têm-se feito duas coisas nas últimas semanas. Por um lado, têm aumentado moderadamente a duração nas carteiras. “Numa base risco-retorno, há oportunidade de a ir aumentando. É um bom momento para o fazer”, afirma. Por outro, têm reduzido a sua exposição a high yield após o bom comportamento registado por este segmento de mercado em 2023. “Desfizemos posições nos nomes mais cíclicos e mantivemos os de empresas que operam em setores mais estáveis e defensivos”.

O Euro Corporate é um fundo que investe principalmente em investment grade, mas seleciona emissões BB onde vê oportunidades de investimento interessantes. Não obstante, são cada vez mais cautelosos. 

“Agora estamos mais em blue chips. O muro de vencimento no mercado de dívida de high yield está em 2025-2026. Até lá, o risco de crédito é baixo. A qualidade do crédito é boa. Não vemos um grande número de empresas a entrar em default ou com problemas graves de refinanciamento. A questão em high yield não está aí, mas sim nas taxas e, mais concretamente, na forma como afetaria as empresas se os bancos centrais as mantivessem em níveis elevados. Se o mercado começar a preocupar-se com isso, não precisamos de chegar a 2025 para ver instabilidade no segmento de high yield”, avisa Lewis Aubrey-Johnson.

Visão sobre os AT1

Atualmente, é no mercado de CoCos que encontram mais oportunidades. “A criatividade do Banco Nacional Suíço para enfrentar o problema do Credit Suisse fez com que muitos investidores reconsiderassem a sua visão sobre esta classe de ativos. No entanto, as obrigações AT1 estão aqui para ficar. Este mercado não irá desaparecer. Tem uma dimensão de 250.000 milhões de dólares e constitui uma camada de capital regulamentar necessária para os bancos. Além disso, apesar do rally, atualmente continuam baratas tanto em relação ao high yield como ao seu historial. São inclusive atrativos quando comparados com as preferenciais obrigações bancárias americanas”, destaca o gestor do fundo. 

A equipa tem estado muito ativa na hora de capturar e incluir nas carteiras as novas emissões de obrigações realizadas por entidades solventes que, como a BBVA, chegaram ao mercado com cupões elevados. “É um segmento que nos dá uma yield entre 8% e 9%”, indica Julien Eberhardt. O gestor reconhece que, com a volatilidade observada este ano no mercado de obrigações, é difícil ter uma visão sobre quais serão os próximos movimentos das suas carteiras. “Tudo dependerá da macro e dos dados que forem surgindo”, afirma. O que para o profissional é claro é que, há dois anos, o spread era a principal fonte de rentabilidade. E, hoje, essa parte foi reduzida pelo reaparecimento do cupão.

“No meu trabalho, os momentos mais emocionantes foram sempre vividos em períodos de agitação nos mercados. Foi aí, nesses momentos de elevada volatilidade, que utilizamos a nossa liquidez para comprar a bom preço”, recorda Lewis Aubrey-Johnson. E Julien Eberhardt mantém essa posição em liquidez que os fundos com Paul Read têm historicamente tido. No caso do Invesco Euro Corporate Bonde, entre liquidez, obrigações com vencimento inferior a um ano e dívida pública, a percentagem de liquidez na carteira situa-se atualmente nos 7%. No Invesco Global Total Return Bond, o seu peso é muito maior (44%), sendo as obrigações governamentais o ativo mais ponderado.

Posicionamento do Invesco Euro Corporate Bond

Posicionamento do Invesco Global Total Return Bond