Como a economia não são só as empresas cotadas, o especialista vê o private equity como uma classe de ativos com um conjunto de oportunidades imenso. O diretor de investimentos fala do investimento nesta classe de ativos e das soluções para democratizar o seu acesso.
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A economia não são só as empresas cotadas. É uma verdade muitas vezes esquecida quando se olha para índices como o S&P 500 ou o Euro Stoxx 50 como indicadores da saúde financeira de um país ou região. As dinâmicas mais recentes de concentração da capitalização de mercado em algumas - poucas - empresas nos Estados Unidos vêm apenas reforçar esta mensagem de que há muita vida para lá das empresas cotadas. “Há cerca de 50.000 empresas cotadas mundialmente, enquanto temos mais de 200 milhões de empresas privadas”, introduz Mário Garcia Ribeiro, diretor de Investimentos na Schroders Capital, numa conversa sobre private equity com a FundsPeople.
“O private equity é uma classe de ativos de longo prazo com um conjunto de oportunidades imenso”, diz o especialista desta unidade mercados privados da Schroders. E como explica Mário Garcia Ribeiro, mesmo dentro do universo de empresas privadas, o volume de oportunidades não é o mesmo nos segmentos de maior capitalização comparativamente com os segmentos intermédio ou inferior. “Cerca de 2% dos fundos têm 40% do capital. Isso faz com que a maior parte desse capital esteja concentrado num número pequeno de players que querem investir nas mesmas empresas. É por isso que acreditamos que nos segmentos de menor capitalização do mercado, onde o tecido empresarial é muito mais vasto, encontram-se maiores oportunidades”, diz. Como detalha, este segmento é menos eficiente, tem menos advisors e os múltiplos de aquisição podem ser muito mais interessantes. “Há um claro gap de valuation entre as transações de maior e menor capitalização. Nós pagamos uma média de 8 ou 9 vezes o valor empresarial/EBITDA em comparação com os 14 ou 15 a que se transaciona no segmento maior”, conta Mário Garcia Ribeiro.
Já a estratégia de investimento é diversificada em termos geográficos, mas acaba por ter um viés setorial, onde a Schroders Capital encontra mais empresas com as caraterísticas que satisfazem os critérios de investimento. “Investimos em setores resilientes e é por isso que gostamos dos setores de tecnologia e saúde, que ocupam mais de 50% das carteiras. Também investimos em empresas com posições líderes no segmento de business services ou, no caso da Ásia, pelo fator demográfico, em bens de consumo”, conta o profissional. No fundo, estas preferências setoriais acabam por ser resultado dos critérios impostos que, segundo Mário Garcia Ribeiro, passam por posições de liderança nos respetivos segmentos de mercado, margens altas e boa conversão de vendas em liquidez, só para dar alguns exemplos.
Se comprar bem é importante, vender bem também o é, e isso implica um trabalho de valorização dos ativos que o diretor de Investimentos vê com maior potencial no segmento em que a Schroders Capital opera. “Gerar valor através de fazer crescer os negócios em que investimos é um elemento chave do nosso trabalho. É muito mais fácil profissionalizar e melhorar o governance de uma PME do que uma empresa com 50 milhões de euros em EBITDA, que já estará, naturalmente, muito mais profissionalizada”, conta. O objetivo passa então, como explica, por ajudar as empresas a crescer estrategicamente, a apoiar na atividade de M&A, a expandir internacionalmente, conquistando novos mercados ou lançando novos produtos. Já no que diz respeito à fase de exit, para Mário Garcia Ribeiro o ideal é vender as posições aos grandes fundos referidos anteriormente, “que têm muito capital e pagam múltiplos mais elevados, ou a investidores estratégicos”, diz.
Democratização do acesso a uma classe de ativos tipicamente institucional
Aquela que tem sido, historicamente, uma classe de ativos institucional tem evoluído no sentido de se tornar cada vez mais acessível a carteiras de menor dimensão. Por um lado, vê-se surgir muitas plataformas que ajudam a democratizar o acesso ao investimento em private equity, ao mesmo tempo que contribuem para a literacia financeira neste âmbito, algo que o profissional da Schroders Capital considera “muito positivo”. Por outro, “há ainda uma série de desafios que a tecnologia poderá vir a contribuir para ultrapassar, como o é a gestão de capital calls”, diz.
No entanto, a entidade gestora deu já os primeiros passos para contribuir para a democratização e o perfil do investimento em private equity. Primeiro, fê-lo com um fundo semi-líquido com janelas de investimento mensal e de resgate trimestral que permite dar alguma liquidez ao investimento. Em segundo lugar, fê-lo com o lançamento do primeiro ELTIF da casa. “O que vimos foi que no sul da Europa, mas também em países como a França, era difícil qualificar para se ser investidor profissional e o fundo semi-líquido apenas poderia ser comercializado a esta categoria de clientes. Vimos que não poderíamos chegar a todo o público que gostaríamos e percebemos que o ELTIF seria a solução”, explica.
Esta estrutura de investimento que permite o acesso a partir de 10.000 euros não tem capital calls, mas a entidade desenhou-o para ter um “período mais reduzido de investimento, evitando que os investidores tenham o seu dinheiro demasiado tempo em liquidez”. É uma estrutura fechada, com um período de investimento de oito anos, e segundo Mário Garcia Ribeiro, há muitos investidores “que aproveitam os mínimos reduzidos para testar a classe de ativos” numa pequena parte da carteira. “Para um cliente de 200.000 euros, alocar 5% da sua carteira a esta classe de ativos, como ponto de partida, é perfeitamente razoável”, conclui.