O caminho do UBP para investir em high yield

Mohammed Kazmi, UBP AM. Fonte: Cedida
Mohammed Kazmi, UBP AM. Fonte: Cedida

O banco privado suíço Union Bancaire Privée (UBP) assinou recentemente um acordo de colaboração com a Atrium Portfolio Managers, permitindo à sua divisão de gestão de ativos, a UBP AM, alargar as suas relações com investidores institucionais em Portugal. A primeira iniciativa desta colaboração foi a apresentação das soluções de rendimento fixo da UBP AM. Os seus fundos de high yield - incluindo o fundo com rating FundsPeople 2024, UBAM - Global High Yield Solution - suscitaram um interesse particular. Nesta ocasião, a FundsPeople reuniu-se em Lisboa com Mohammed Kazmi, diretor de Estratégia e gestor Sénior de Carteiras da equipa de Global & Absolute Return Fixed Income do UBP, para discutir a forma como na entidade se investe em high yield.

Em primeiro lugar, o especialista argumentou o porquê de ser um bom momento para reforçar o investimento em obrigações. “Já ultrapassámos o pico da hawkishness dos bancos centrais e as taxas estão em níveis elevados. Vivemos um par de anos em que as taxas estiveram sob pressão e em que o caminho dos bancos centrais não era evidente. Agora vemos que fica bastante mais claro que as taxas deverão descer e isso dá a confiança necessária aos investidores para apostar nesta classe de ativos, numa altura em que as yields se encontram em níveis muito atrativos e acima dos níveis médios históricos”, explica o especialista. 

Escutamos frequentemente que não se deve combater os bancos centrais e o especialista da UBP AM concorda. “Estes começam a passar a mensagem de que vão iniciar o corte de taxas de juro este ano. Não sabemos quanto, ou em que mês, mas a direção é bastante clara”, conta Mohammed Kazmi. Para o profissional, fica assim claro que os bancos centrais estão agora do lado dos investidores em rendimento fixo, especialmente quando o crescimento se tem aguentado tão bem, mesmo perante o movimento mais agressivo de subida de taxas de juro em muito tempo. É uma conjuntura, segundo diz, em que fica evidente que os tail risks se reduziram e, para Mohammed Kazmi, isso significa confiança para investir em high yield, uma classe de ativos que a UBP AM disponibiliza de uma forma bastante diferente do habitual, no UBAM Global High Yield Solution.

“O que esta estratégia oferece é uma exposição ao risco de crédito através de índices de CDS. Providenciamos uma alocação diversificada ao mercado de high yield, que é muito difícil conseguir através do investimento direto”, conta. Como explica o profissional da UBP AM, a liquidez é um fator diferenciador que não existe quando se investe em emissões individuais. Já neste fundo de high yield da casa, a liquidez é diária, não existe swing price e o custo é muito competitivo, considerando o eficiente que os CDS são.

E nada disto quer dizer que não podem exercer uma gestão mais ativa. Pelo contrário. “Em grande parte do ano passado mantivemos uma sobreponderação em momentos em que o mercado temia uma recessão. Quando vimos os spreads a contrair rapidamente, beneficiámos com isso. Também nos encontrávamos bem posicionados para o pivot do Powell, em dezembro, com uma sobreponderação a duração”, explica. 

A exposição base do fundo é, em termos geográficos, alocada dois terços aos Estados Unidos e um terço à Europa, mas a componente de duração da carteira é, por defeito, alocada a 100% a treasuries norte-americanos. Não obstante, esta posição central pode variar em 20%, bem como a exposição total ao risco de crédito. Já a duração deste fundo pode oscilar entre 0 e 2 anos, mas a entidade gestora proporciona também uma alternativa, com o mesmo risco de crédito e uma duração de quatro anos, mais alinhada com os benchmarks de obrigações high yield.

Desmistificando os argumentos contra o investimento em high yield

Para Mohammed Kazmi, aprofundar as razões pelas quais o segmento de high yield pode ser interessante, atualmente, passa também por desmistificar alguns dos principais argumentos contra. Em primeiro lugar, o risco de default. Falamos de uma classe de ativos cuja yield atua como uma grande almofada contra uma situação de default. “Os spreads podem alargar, mas o carry é uma almofada. A yield all in nunca foi tão atrativa”, diz. Por outro lado, o profissional argumenta que “que as taxas de default estão muito correlacionadas com o crescimento do PIB nominal e num mundo em que a inflação se poderá manter sticky, isso representa um suporte para o crescimento nominal”. 

Em segundo lugar, Mohammed Kazmi não vê risco de chocar numa maturity wall como muitos argumentam. Acredita que os bancos centrais podem sempre agir para manter o mercado de novas emissões a funcionar como aconteceu na pandemia e num pior cenário possível. Observa também  que muitas das empresas têm sido bem sucedidas a refinanciar a sua dívida. “Os riscos previstos de refinanciamento para  2024 e 2025 são significativamente inferiores hoje do que aparentavam ser há um ano”, diz.

Finalmente, a situação de balanço. “As empresas estão em bom estado atualmente porque este último ciclo foi muito curto. Perante todas as incertezas no pós-pandemia, as empresas foram muito cautelosas e não se viu uma subida na alavancagem”, conclui.