Porque pode ser um bom momento para ter cuidado com o high yield

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Créditos: Joseph Greve (Unsplash)

O high yield é um dos segmentos de obrigações que melhores resultados está a oferecer este ano. No entanto, começam a surgir vozes que apelam à prudência na hora de investir no mercado de dívida high yield. Uma delas foi Pilar Gómez-Bravo, co-CIO de Obrigações e gestora de carteiras da MFS IM, que, numa recente visita à Península Ibérica, explicava que estas empresas entraram neste ciclo com uma posição muito mais forte nos seus balanços após terem alargado os vencimentos da sua dívida. “Mas o problema vai surgir a partir de meados do próximo ano”, alerta.

“Embora o grande muro de vencimentos do high yield seja em 2025-2026, as empresas têm de se financiar um ano antes. Se não o fizerem, as agências de notação de risco poderão reduzir o rating por entenderem que não têm acesso a liquidez. Assim, todos os gráficos de vencimento de dívida que surgem agora têm de ser assumidos como sendo um ano mais cedo do que são na realidade”. Tal como indica, muitas empresas beneficiaram da liquidez disponível nos seus balanços e não tiverem de recorrer aos mercados. Mas, num contexto em que os bancos centrais vão manter as taxas elevadas, é com empresas CCC que se deve ter muito cuidado

Maior custo de refinanciamento

“São empresas que vão sofrer muito assim que tiverem de assumir um novo custo de refinanciamento. Vão passar de pagar 3-3,5% para pagar 8-9%. Iremos ver reestruturações e episódios de tensão nos mercados de high yield num cenário em que, além disso, os bancos estão a endurecer as suas condições financeiras. A posição técnica que favoreceu o high yield até agora, em 2024 irá inverter-se”. 

Isso não significa que, na sua opinião, não existam oportunidades no mercado de dívida high yield. O que a equipa de obrigações da MFS IM aprecia particularmente são as obrigações com durações curtas. Sobretudo, as emitidas por empresas que vão avançar no processo de refinanciamento. 

“Se procuram obrigações a 2025-2026 de boas empresas que, além disso, estão abaixo do par, não há problema se o fizerem com uma visão buy & hold. Numa crise de mercado, vende-se o que tem o preço mais elevado e, logicamente, esse preço mais elevado é dado por títulos curtos. Por isso, deve-se ter especial cuidado na construção de uma carteira para não ter excesso destes títulos. Temos de ser muito seletivos. É melhor não comprar beta em high yield”, afirma. 

Mais vozes apelam à prudência

Esta visão cautelosa sobre o mercado de high yield não é uma voz isolada. Começa-se a ouvir cada vez mais vozes no setor que antecipam problemas no mercado de dívida high yield. Para Lewis Aubrey-Johnson, diretor de Produtos de Obrigações da Invesco, o facto do muro de vencimento no mercado de dívida high yield estar em 2025-2026 faz com que, até lá, o risco de crédito seja baixo

“A qualidade do crédito é boa. Não vemos um grande número de empresas a entrar em default ou com graves problemas de refinanciamento. O problema do high yield não está aí, mas sim nas taxas e, mais concretamente, na forma como afetaria as empresas se os bancos centrais as mantivessem em níveis elevados. Se o mercado começar a preocupar-se com isso, não precisamos de chegar a 2025 para ver instabilidade no segmento de high yield”, alertou. 

O CCC, incapaz de se refinanciar

Desde a crise do Lehman Brothers, o mercado de high yield europeu aumentou sete vezes a sua dimensão. Passou de 100.000 milhões de euros para 700.000 milhões. É um segmento que se desenvolveu, na sua totalidade, praticamente em tempos de custos de financiamento ultra-baixos, devido a uma política monetária de taxas 0. “Isto torna improvável que, em contextos de normalização de taxas, muitas empresas consigam refinanciar-se. Estas empresas vão ter dificuldades ao enfrentarem um custo de financiamento substancialmente maior. É a primeira vez na história do mercado europeu de high yield que têm de enfrentar este aumento de custos”, explica David Nazar, fundador e diretor de Investimentos da Ironshield.

O especialista explica que já se começa a verificar que, desde que as taxas começaram a subir, os refinanciamentos pararam. “Este ano, nenhuma empresa de euro high yield com um rating de crédito CCC foi capaz de se refinanciar”, indica. Outra consequência, aliás, foi o facto de as empresas com rating B ou inferior terem perdido totalmente o poder de amortização com a subida das taxas. “Acredito que o timing atual não podia ser melhor para o crédito distress. Nos últimos dias temos visto um grande sell off em dívida a nível global, uma vez que o mercado está a começar a perceber que as elevadas taxas (ou seja, uma normalização e não um regresso a 0%) é uma realidade e não uma coisa temporária”, conclui.