Um terço da dívida corporativa norte-americana apresenta um vencimento a curto prazo

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Créditos: Timis Alexandra (Unsplash)

Cerca de um em cada três dólares de dívida corporativa norte-americana apresenta um vencimento a curto prazo. Isto representa a percentagem mais elevada desde o período anterior à crise financeira mundial. Assim revela Robert Almeida, gestor de carteiras e estratega de Investimento Global na MFS Investment Management, que salienta que um grande volume de dívida corporativa deverá ser objeto de refinanciamento a níveis consideravelmente superiores a curto prazo, o que se traduzirá num aumento das despesas com juros e numa redução dos lucros futuros. 

Uma das objeções à sua preocupação com a considerável acumulação de dívida corporativa é que os rácios de alavancagem parecem situar-se em níveis razoáveis em comparação com os lucros passados. No entanto, não acredita que esta abordagem seja a mais adequada, especialmente nos estados finais do ciclo económico. “Os recentes lucros foram invulgarmente elevados devido às medidas de estímulo aplicadas em resposta à COVID, às baixas taxas de juro e ao impulso da reabertura das economias após a pandemia: todos estes fatores já se dissiparam”.

A dívida a curto plaro no seu nível mais elevado desde a crise financeira mundial

Fonte: Conselho de Governadores do Sistema da Reserva Federal (EUA), empresas não financeiras; dívida com vencimento a curto prazo como percentagem da dívida total, nível [BOGZ1FL104140006Q]. Dados extraídos da base de dados do Banco da Reserva Federal de St. Louis, denominada Dados Económicos da Reserva Federal, a 22 de maio de 2023. Dados trimestrais de 31 de dezembro de 2006 a 32 de dezembro de 2022. A dívida a curto prazo define-se como o papel comercial, os empréstimos comerciais e industriais concedidos por bancos e os empréstimos e adiantamentos concedidos por entidades não bancárias.

Do seu ponto de vista, o que importa não é o nível atual dos rácios de alavancagem, mas sim o que estes apresentarão quando os lucros estiverem sob pressão. Em 2006 e 2007, os analistas de obrigações da MFS certificaram-se de que os analistas de ações da gestora estavam a integrar custos de financiamento mais elevados e a testar a resistência dos seus modelos de fluxo de caixa. “Embora o atual contexto seja diferente, é provavelmente uma boa altura para os investidores voltarem a testar a resistência dos seus modelos”, avisa o especialista.

Thomas Tilse, diretor de estratégia de carteira de clientes privados da Allianz Global Investors, recorda que os lucros empresariais superaram as expetativas no primeiro trimestre do ano. “Curiosamente, a maioria surpreendeu pela positiva, tanto no que respeita às vendas (68% das empresas) como aos números de lucros (77%). Este resultado deve-se em grande medida às previsões mais cautelosas do início do ano. Esperava-se que a importante subida de taxas e as elevadas taxas de inflação pressionassem as margens das empresas”, indica.

Aumento dos custos de endividamento

A dívida recorde e a subida das taxas de juro significa que os custos de endividamento irão aumentar significativamente nos próximos anos. Esta situação não afetará apenas a dívida privada. Também afetará a dívida pública, cujos custos estão a aumentar consideravelmente. “Em 2022, os encargos com juros da dívida pública aumentou quase 20% (+20,9% para taxas de câmbio constantes), até alcançar o número recorde de 1,38 biliões de dólares. Este aumento, o mais rápido desde 1984, reflete a interação entre a subida das taxas e o aumento do endividamento público”, afirma a Janus Henderson. 

Este custo continua a aumentar à medida que são emitidas novas obrigações a taxas de juro mais elevadas e a dívida mais antiga e barata é amortizada. A taxa de juro efetiva em 2025 será de 3,8%, quase 75% mais do que em 2022. “Isto será muito dispendioso para os emitentes. Em 2025, os governos de todo o mundo terão de destinar 2,80 biliões de dólares ao pagamento de juros, mais do dobro do que em 2022. Isto representará um custo adicional de 1,2% do PIB, obrigando a desviar recursos de outras despesas públicas, ou exigirá aumentos de impostos. Os Estados Unidos estão especialmente expostos a esta variável”.

A isto acrescentam-se as perdas nas carteiras de dívida comprada por bancos centrais no âmbito da expansão quantitativa que devem ser cobertas com dinheiro dos contribuintes, invertendo o fluxo de lucros que os bancos centrais pagavam por esta dívida aos ministérios das finanças dos países antes de 2022. “Os persistentes défices anuais indicam que a dívida continuará a aumentar até alcançar os 77,2 biliões de dólares em 2025. A dívida mundial passará de 78% do PIB atual para 79% do PIB em 2025. A taxa de juro efetiva, que inclui as emissões mais antigas e com menor custo aumentou até 2,2% em 2022, um aumento interanual de 14%”, conclui.