O Esta semana vou estar de olho… é da autoria de Vítor Mário Ribeiro, fundador da Future Proof.
Com a época de apresentação de resultados em pleno andamento, a curiosidade vai para o setor financeiro. Não para os resultados do trimestre passado, mas sim para as expetativas em relação aos resultados futuros. E neste ponto, a evolução das taxas de juro torna-se determinante, nomeadamente o horizonte da yield curve ajustada à inflação.
Em fevereiro, a TS Lombard assinalou a inversão da yield curve real. Tal como na yield curve nominal, este mecanismo de previsão da inflação implica que bancos e investidores tenham menos vontade em assumir riscos quando podem ser compensados por ativos de curto prazo seguros e até, eventualmente, mais rentáveis.
A tabela a seguir assinala as anteriores recessões e o número de meses com a curva negativa, quer em termos nominais quer reais, assinalando o facto de ser raro que a curva inverta primeiro em termos nominais e só depois em termos reais.
Com este cenário da yield curve, o acesso à liquidez será mais difícil e os bancos poderão deixar em cima da mesa um abrandamento da atividade económica no futuro próximo. Os níveis de crédito concedidos e a conceder serão essenciais nesta conjuntura.
A inversão da yield curve, nominal ou real, provoca, lentamente, a diminuição da procura e oferta de crédito. Estarão já os bancos a diminuir, de forma consistente, a concessão de crédito pelo facto de as taxas de juro de curto prazo (bilhetes de Tesouro) estarem superiores às taxas a mais longo prazo?
Ainda no que se refere à época de resultados, uma nota para a evolução das taxas de juro e a recompra de ações: tipicamente, taxas de juro mais elevadas podem prejudicar os programas de recompra de ações se estes programas forem financiados por dívida, devido ao aumento dos custos da dívida.
Resultados do setor financeiro e a inversão das taxas de juro reais conjugam-se no mesmo tempo verbal, em torno da liquidez e num olhar bidirecional.