Inês Oliveira, da direção de Private Banking da WMU do Millenium BCP, analisa papel do selecionador de fundos no âmbito de MiFID II e o impacto desta na seleção de fundos de investimento.
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O aumento exponencial dos ativos investidos em fundos passivos (essencialmente ETFs) é uma realidade e deve-se essencialmente aos elevados custos da generalidade dos fundos de gestão ativa, independentemente da sua capacidade de gerar alpha. Custos de gestão, de administração e distribuição são apresentados de forma agregada, obscurecendo o verdadeiro alpha dos gestores ativos.
A Directiva dos mercados e instrumentos financeiros II visa fundamentalmente reforçar a proteção dos investidores, aumentando a transparência (custos cobrados e riscos inerentes aos investimentos) e a eliminação de conflitos de interesses.
Que impacto terá ao nível da seleção de fundos de investimentos e para a eterna discussão de “gestão ativa vs. gestão passiva”?
Transparência
Uma transparência permite que o cliente tenha conhecimento dos custos que realmente paga e de qual a sua origem, facilitando a comparação dos custos e dos benefícios que obtem de produtos/serviços similares. Este contexto levará provavelmente a uma redução das comissões de gestão da generalidade dos fundos de investimento, já que atualmente quer as sociedades gestoras (SG) quer os Distribuidores não têm grande incentivo a fazê-lo (daí o aumento dos fundos de gestão passiva e ETFs). O serviço de aconselhamento não independente vai poder continuar a ser remunerado a partir de comissões de distribuição (inducements), mas vai ter de “ser transparente”, uma vez que os intermediários financeiros terão de informar o cliente de quanto recebem pelo serviço que prestam (tal como fazer prova desse serviço perante o regulador).
Quanto a mim, uma maior transparência será benéfica para a atividade de seleção de fundos, na medida em que não só os custos de gestão ativa tenderão a baixar, relevando a geração do verdadeiro “alpha” bem como aumentando a visibilidade da qualidade do serviço de seleção. Este poderá ter (ou não) um custo que poderá ser avaliado pelos clientes face à geração de alpha e será comparável entre as entidades que o prestam. Quem paga saberá quanto paga e o que está a pagar.
Por outro lado, e tal como aconteceu noutros países que já passaram há algum tempo por este tipo de alterações, muitos clientes optaram por abdicar do serviço de consultoria quando este passou a ter um custo superior, e serem eles próprios a fazer as suas escolhas e alocações. Este facto também contribuiu para o crescimento dos ETFs. No final, só eles próprios poderão avaliar se fizeram ou não a escolha certa.
Governação do produto e suitability
As regras que serão impostas ao nível da governação dos produtos, nomeadamente ao nível da gestão de conflitos de interesses, controlo eficaz sobre o processo de produção, avaliação do mercado-alvo, avaliação dos riscos de maus resultados para os investidores, avaliação da estrutura de custos a cobrar, revisão periódica dos produtos e reporting, vão provavelmente implicar um aumento dos custos para as SG e Distribuidores que terão necessariamente impacto ao nível da oferta e talvez ao nível do universo de SG selecionadas. Creio que este facto também poderá ser benéfico para a “limpeza” da oferta de fundos e eliminar os que não têm capacidade para oferecer um serviço com custos adequados.
Se bem que a DMIF possa vir a contribuir para a consolidação de gestoras de ativos motivada pela redução de comissões e pelo desaparecimento de underperformances, a procura de fundos deverá continuar a crescer, na medida em que será cada vez mais difícil vender produtos complexos a investidores particulares. Os fundos de investimento são considerados produtos simples e poderão assim vir a ocupar um maior peso nas carteiras dos investidores (de acordo com a definição de mercado-alvo).
Concluindo, creio que a gestão ativa tenderá a recuperar a sua quota de mercado em relação à gestão passiva, por efeito da transparência e concorrência, e o papel dos selecionadores de fundos poderá ser avaliado de forma transparente. A gestão ativa continua a gerar mais e melhor alpha só é preciso é saber identificá-lo. Os que o souberem fazer de forma consistente serão mais facilmente identificados e recompensados por isso.