Opinião do economista Ricardo Arroja sobre o resultado eleitoral na Alemanha, onde Angela Merkel saiu "vitoriosa" com um resultado surpreendente relativamente ao previsto.
As eleições legislativas na Alemanha resultaram este domingo na reeleição de Ângela Merkel, que saiu vitoriosa e com uma percentagem de votos superior àquela que as sondagens antecipavam. O cenário mais provável será agora o de uma grande coligação com o decepcionante SPD, ou até uma maioria absoluta da CDU. Ao mesmo tempo, o outro destaque destas eleições terá sido a votação no novo partido anti-euro, o AfD, próxima da fasquia de 5% que concede assento parlamentar, bastante acima das expectativas iniciais.
Contudo, ultrapassado este momento eleitoral, estou convencido de que a Alemanha não alterará o curso da política interna e externa seguido até aqui. Assim, não vislumbro que venham existir concessões relevantes, nem ao nível de uma eventual mutualização da dívida nem no que se refere à união bancária. A fraca prestação eleitoral do SPD, mais sensível às questões anteriores, bem como a surpresa associada ao AfD e suas posições anti-euro, levam-me a acreditar que a Alemanha continuará para já a pugnar por uma União Europeia constituída na base de uma confederação de nações soberanas.
Além disso, é sempre bom não esquecer que, independentemente da fragilidade económica sentida nos países sob resgate, na Alemanha se vivem tempos de relativa acalmia. O crescimento económico em 2013 será modesto, mas prevê-se que acelere no próximo ano. E mais importante ainda, a baixa taxa de desemprego, tanto ao nível da taxa geral (5,3% segundo os últimos dados do Eurostat) como do desemprego entre os jovens (7,7%), confere um conforto especial à população alemã, validando com factos o conservadorismo político de Merkel.
Caberá, portanto, aos países intervencionados liderar eventuais negociações em prol de alguma revisão dos programas de resgate. O impacto dessas investidas será tanto maior quanto maior for a frente negocial acordada entre os países intervencionados (Espanha incluída). E serão tanto mais eficazes quanto maior for a percepção, junto das opiniões públicas das nações em apuros, de que a revisão dos programas de resgate não poderá servir o crescimento das respectivas despesas públicas, mas sim a criação de válvulas de escape que passem por taxas de imposto mais baixas e por incentivos ao investimento privado.