Quão relevantes são as eleições intercalares nos EUA para os mercados?

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Créditos: Jason Briscoe (Unsplash)

Se olharmos para a história, as eleições intercalares nos Estados Unidos são estatisticamente um ponto de viragem para os mercados financeiros, especialmente os de ações. A bolsa norte-americana tem, historicamente, uma rentabilidade inferior durante o ano que antecede as eleições intercalares. A rentabilidade média a 12 meses do S&P 500 antes das eleições intercalares é próxima de zero, significativamente inferior à média histórica de 8,1%.

No entanto, no período posterior às eleições intercalares a história é muito diferente, com o S&P 500 a obter melhores rentabilidades durante o período de 12 meses após estas eleições, com uma rentabilidade média de 16,3%. Isto aconteceu especialmente nos períodos de um e três meses após as eleições intercalares. A pergunta que devemos fazer é se estes dados são relevantes ou uma mera coincidência.

Mera coincidência

François Rimeu, estratega sénior da La Française AM, está inclinado a acreditar que é uma mera coincidência por duas razões. “Em primeiro lugar, supondo que as eleições eliminam a incerteza, faria sentido que os mercados de ações recuperassem na ausência de incerteza. No entanto, esta observação é incompatível com o facto do resultado das eleições intercalares (democratas vs. republicanos) não ter um impacto notável na rentabilidade geral do mercado de ações”, explica.

Em segundo lugar, e observando os dados, é possível verificar que as rentabilidades negativas do mercado antes das eleições intercalares predominaram nas décadas de 1960 e 1970. “Se se exclui este período de análise, a rentabilidade média a 12 meses do S&P 500 antes das eleições intercalares coincide aproximadamente com a rentabilidade média anual do índice”, indica.

Um tema secundário para os mercados a médio-longo prazo

Para Christophe Foliot, gestor de Ações Americanas na Edmond de Rothschild AM, o tema das eleições intercalares é secundário para os mercados, em comparação com a inflação.

“Se o Congresso for dividido (maioria democrata no Senado e maioria republicana no Congresso), poucas reformas vão poder ser implementadas. As ordens executivas em relação à política externa seriam uma forma de cumprir a segunda metade do mandato do presidente. Isto significaria um menor risco legislativo, algo que os mercados costumam gostar. A manutenção do status quo, ou seja, um Congresso com as duas câmaras totalmente democratas, também não é uma grande mudança para os investidores. Assim, é pouco provável que as eleições intercalares gerem uma mudança no posicionamento da alocação de ativos”, opina.

Resposta dos mercados no caso de ocorrer o cenário mais provável

Tal como estão as coisas, este é o resultado mais provável. Os prognósticos da Betfair dão aos Republicanos 80% de probabilidade de ganharem a Câmara dos Representantes. Mas são os menos favorecidos no Senado, onde os Democratas têm 60% de probabilidade de manter o controlo.

A partir da perspetiva do mercado, George Brown considera que o bloqueio do Capitólio favoreceria os ativos de risco. “O facto de serem obrigados a chegar a um compromisso serve para moderar as inclinações mais extremas de cada partido, proporcionando um pano de fundo político mais estável para os investidores. Os dados comprovam-no. As ações norte-americanas registaram ganhos médios anuais de 12,9% quando um presidente teve de lidar com um Congresso dividido. Isto é comparado com um aumento mais modesto de 6,7% quando um presidente democrata controlou ambas as câmaras”, sublinha o economista da Schroders.