Os fundos monetários e de curto prazo são estratégias must have hoje em dia. Três profissionais da gestão de ativos falaram da forma como olham para esses instrumentos, num debate promovido pela Amundi.
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Antes de 2022, o pedaço mais curto da curva de yields era o patinho feio em termos de atratividade no rendimento fixo, e até nos investimentos de forma mais genérica. Com o início da política de subida de taxas de juro por parte dos Bancos Centrais, a perceção sobre este segmento foi mudando e, hoje em dia, qualquer gestor de investimentos ou carteiras não pode ficar indiferente ao ótimo binómio risco-retorno aí encontrado. Num pequeno-almoço promovido pela Amundi em conjunto com a FundsPeople, essa atratividade foi discutida, mas houve também espaço para ir mais longe. Percecionou-se também como é que os profissionais nacionais encaixam no seu puzzle de ativos os fundos e estratégias que tiram precisamente partido dessa área do rendimento fixo.
Como começou por lembrar Cristina Carvalho, responsável pelo Mercado Português e Clientes Institucionais na Amundi Iberia, a procura por maior qualidade e menor risco, também veio influenciar como se olha para os produtos que se debruçam sobre a parte mais curta da curva. A conduzir essa perceção estiveram alguns casos que marcaram 2023, como “a crise nos bancos que vimos este ano”. Para a responsável, as tais características de maior qualidade e menor risco “encontram-se, claro, nos fundos monetários, que são um complemento aos depósitos e com a vantagem de serem mais diversificados por geografias e por setores”. Mas não é a única vantagem. “Têm a vantagem de ter menos volatilidade que outras classes de ativos. Podem funcionar como uma espécie de amortecedor de volatilidade na carteira”, assinala.
No serviço de consultoria para investimento do novobanco, o mercado monetário tem de facto ganho espaço. Elisabete Pinto Pereira, responsável da área de Investimento e Proteção do banco, concorda com a perspetiva da antecessora, e realça também o efeito diversificador destes fundos, mas acrescenta também que os depósitos têm entrado nesta alocação que fazem ao mercado monetário. “Esta categoria”, assinala, “tem tido mais peso nos perfis conservadores do que nas carteiras de perfis dinâmicos”, algo que não é de estranhar. No entanto, refere também que o segmento monetário “não só tem servido os clientes que tendencialmente são mais conservadores, como tem servido também para mitigar a volatilidade das carteiras, e neste momento já apresentam retorno”. Na sua opinião há que desfazer o mito: “Pode dizer-se, então, que cash não é trash”.
Para Jorge Silveira Botelho, responsável de Gestão de Ativos da BBVA AM Portugal, a alocação referida pelas antecessoras também ganhou peso, mas os novos fundos lançados pela casa refletem, também, o interesse pela temática. “Apesar de toda esta relação de risco-retorno que temos vindo a falar, não quer dizer que não faça sentido ligar as outras classes de ativos. Mas o binómio risco-retorno, provavelmente, nos últimos cinco ou seis anos nunca foi tão evidente”, começa por dizer. Recordando situações dos últimos 10 anos, o profissional realça que a preocupação dos clientes era alcançarem “3% ou 4% de retorno sem terem de se preocupar muito”. “Agora temos essa oportunidade de oferecer esses valores que antes não tínhamos”, destaca.
Fundos de obrigações curto-prazo: um must have
Para além dos fundos monetários, neste contexto consideram que os fundos de curto prazo são um verdadeiro must have. Cristina Carvalho realça essa procura e lembra que neste tipo de produto sobressaem as questões de “liquidez e a transparência” como algo importante. “Trata-se de saber que tenho o dinheiro disponível no próprio dia”, salienta. Uma coisa é certa para a especialista: “A conclusão a que chegamos com esta conversa hoje, é que estamos perante uma oportunidade única de mercado”, frisou.
Elisabete Pinto Pereira também salientou a procura por fundos de obrigações de curto prazo, até que chega a superar a procura mais do que dos fundos monetários. “Os fundos de obrigações de curto prazo começaram por ser a alternativa no contexto de políticas de taxas de juro zero, mas neste momento já têm muito mais relevância, e cumprem a parte da diversificação e mitigação de risco nas carteiras”, resume. Lembra também que a própria gestora do grupo do qual fazem parte, lançou fundos com maturidade a três anos, precisamente para tirar partido do contexto. “A questão do binómio risco-retorno é a grande conclusão desta conversa”, disse mesmo a especialista.
Do lado da BBVA AM, Jorge Silveira Botelho destaca a preocupação que de facto têm tido em aproveitar o espaço dos 0-3 anos da curva de yields, algo que já acontece, em concreto, desde 2022. No caso da alocação de ativos que fazem para um portefólio de mais longo prazo, como é o caso dos fundos de pensões, a parte curta da curva também tem sido privilegiada, visto a sua atratividade. No entanto, não esquece que nos fundos de pensões, em que existe uma “componente de longo prazo de liability matching”, a parte longa da curva não pode ser descurada. “Quando olhamos para as taxas de juro reais nos EUA, neste momento está implícito, nos 10 anos, um valor de 2,5%; esse valor era negativo há ano e meio. Era próximo de -1,2%. Ou seja, numa componente de longo prazo de liability matching, ninguém pode ficar indiferente a esses números, numa perspetiva mais de gestão focada no longo prazo”, explica. Contudo, numa nota de fecho sobre o tema, Jorge Silveira Botelho destacou o que também as colegas de painel foram referindo: “Estamos todos em sintonia. Estamos numa fase em que não precisamos de adicionar muito risco e queremos todos deter boa qualidade creditícia com este nível das taxas de juro, e isso implica não haver necessidade de grande duração nessas componentes”, concluiu.