A inflexão das políticas monetárias joga a favor das small caps

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Créditos: Roman Bozhko (Unsplash)

As small caps continuam a ficar para trás. Desde 2017, o índice MSCI World Small Cap começou a ficar atrás do índice mais geral do mercado, o MSCI ACWI, com uma diferença quase marginal, que aumentou quase para os seis pontos percentuais. História que se repete nos primeiros meses de 2024, apesar de negociar aos múltiplos PER forward mais baixos dos últimos 20 anos relativamente às large caps.

Fontes: Capital Group, FactSet, MSCI. A 31 de dezembro de 2023. P/E = preço/lucro. NTM = próximos 12 meses. P/E = preço/lucro. NTM = próximos doze meses. O eixo Y representa a relação entre o P/E do índice MSCI ACWI Small Cap e o P/E do índice MSCI ACWI Large Cap.

No entanto, se recuarmos mais no tempo, o índice MSCI World Small Cap registou uma rentabilidade média anual de 8,78% desde 2000, superando os 6,87% de rentabilidade do índice MSCI ACWI. Neste comportamento, destaca-se a primeira década do século, em que as small caps ultrapassaram em quase 50 pontos o MSCI ACWI.

Contexto macroeconómico favorável

Algumas razões por detrás deste atraso são o contexto de endurecimento da política monetária e os fortes receios de uma desaceleração económica mundial. No entanto, dado o aparente contexto de inflexão das políticas monetárias, especialmente nos EUA, onde, segundo as estimativas da CME Group, 66% dos inquiridos prevê um corte de taxas na reunião de abril da Fed de, pelo menos, 25 pontos base. A isso soma-se o facto de os dados de crescimento continuarem a ser positivos em termos gerais.

Fonte: CME Group

Assim, as perspetivas são muito mais promissoras para estes gigantes de amanhã, promovendo até a participação num processo de OPV, que, nos últimos anos, tem sido precária a nível mundial, e começamos a observar uma certa aceleração.

Adicionalmente, somam-se o reshoring ou onshoring, que fazem com que muitas das pequenas empresas sejam favorecidas por trazerem de volta as cadeias de produção que antes se encontravam na China para países mais próximos ou mesmo o próprio país de origem, favorecendo os países emergentes mas também os desenvolvidos, como os EUA, segundo aponta Michele Ward, gestora do T. Rowe Price Funds SICAV - US Smaller Companies Equity Fund, um dos poucos fundos que obteve Rating FundsPeople+ este ano.

Opções de investimento diversificadas a nível global

Embora as ações de pequena capitalização tendam a ser associadas aos EUA, segundo a Capital Group, é cada vez mais frequente encontrar um maior número de oportunidades em mercados que, normalmente, não seriam considerados paraísos para pequenas empresas inovadoras em crescimento, como o Japão, os países nórdicos - Suécia e Noruega -, países do sul da Europa, como a Grécia, e mercados asiáticos importantes, como a Índia em particular.

E relativamente às joias nórdicas, Hans-Marius Lee Ludvigsen, gestor do DNB Nordic Small Cap, considera que o contexto atual é favorável para este segmento do mercado, visto que “no norte da Europa existe um grande número de pequenas capitalizações muito promissoras que, no entanto, estão subvalorizadas, o que lhes atribui muito potencial para voltar a atrair os investidores”.

Segundo o gestor, a história mostra que este segmento é mais resistente do que as grandes capitalizações em tempos de desaceleração económica, visto que, por serem mais flexíveis, podem reduzir custos mais rapidamente e manter melhor as suas margens, destacando que uma grande proporção dos retornos das pequenas empresas nórdicas foi mais impulsionada pelo crescimento dos lucros do que pela expansão de múltiplos.

“O setor de tecnologia da informação dos países nórdicos contam com diversas empresas de software com elevadas margens e um potencial de crescimento significativo, bem como o setor da saúde e bem-estar, com laboratórios como o Zealand Pharma, que poderá tornar-se num mini Novo Nordisk, com uma carteira importante de tratamentos contra a diabetes e a obesidade”, destaca o gestor nórdico.

Outros setores de destaque no resto da Europa são o dos materiais básicos e o financeiro, em especial no Reino Unido, mas também o industrial na Alemanha, com empresas muito destacadas em cada um deles e com um modelo de negócio notável. Os bancos gregos, que, após três resgates financeiros, passaram de 25 bancos para uma mão-cheia, estão sobrecapitalizados e enfrentam uma menor concorrência em comparação com outros países europeus, aponta a Capital Group.

Sem esquecer os emergentes e de fronteira

Também é preciso falar dos mercados emergentes, que têm sido o motor de crescimento do PIB mundial. Os consultores de Investimento da gestora nórdica Evli, Burton Flynn e Ivan Nechunaev, consideram que as empresas de pequena capitalização de mercados emergentes e de fronteira com escassa cobertura estão subvalorizadas (com PER inferior a 15 vezes), apesar de terem modelos de crescimento de elevada qualidade. E apontam que os países com maior peso na carteira do fundo Evli Emerging Frontier são a Arábia Saudita, o Kuwait, a Turquia, a Índia, o Paquistão e a Indonésia.