Abdelak Adjriou (Carmignac): “Estamos perante uma dessincronização que pode proporcionar oportunidades para os investidores”

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Abdelak Adjriou. Créditos: Vítor Duarte

Gestor do Carmignac Portfolio Global Bond, Abdelak Adjriou, da Carmignac, em entrevista à FundsPeople, fala das obrigações globais e por que faz sentido apostar nesta classe de ativos, neste momento.

Por que acredita que obrigações globais fazem sentido neste momento?

A volatilidade das taxas de juro atingiu níveis históricos e impulsionou a volatilidade subjacente das ações, do crédito e de FX - os mercados de fixed income têm sofrido as maiores crises das últimas décadas (século), com os mercados principais a perderem entre -8% e -18%, principalmente impulsionadas pela atitude hawkish dos bancos centrais em todo o mundo (2022 será marcada pelo ciclo de endurecimento mais rápido e acentuado de sempre, enquanto as avaliações entre as classes de ativos atingiram máximos históricos).

Dito isto, nem todos os mercados estão a passar pela mesma situação porque os impulsionadores da inflação e as consequentes respostas dos bancos centrais diferem, como é possível ver pelos casos dos EUA e da Europa, por exemplo. Assim, quando observamos o ambiente global, estamos perante uma dessincronização que pode proporcionar oportunidades para os investidores. Os mercados emergentes avançaram, exceto os países asiáticos, que não tiveram de lidar com a elevada inflação. Em suma, os países que foram os primeiros a aumentar as taxas, com efeitos já visíveis, são os que temos de analisar cuidadosamente.

Os mercados de crédito continuam altamente voláteis, o que trouxe algumas perturbações, nomeadamente entre os índices CDS e os mercados spot. Dito isto, estes mercados já estão a refletir no preço algumas oportunidades, uma vez que as yields dos segmentos mais expostos rondam os 8-10%, daí refletindo um nível potencial de retorno de longo prazo semelhante a ações, mas com um melhor perfil de risco em comparação com os mercados de ações (antiguidade, volatilidade, período de retenção recomendado, pessimismo considerado, entre outros).

O que existe de mais único na vossa abordagem ao investimento em obrigações globais em comparação com a concorrência?

Acreditamos que os  três argumentos que nos diferenciam dos nossos pares são:

  • Trata-se de uma estratégia de global macro fixed income que pretende navegar em todos os ciclos (ciclos económicos, de crédito e de taxas de juro).
  • É extremamente flexível em termos de alocação, exposição líquida ou seleção de ativos, setores e títulos subjacentes.
  • E, finalmente, beneficia de uma completa gama de fixed income, divisas e ativos relacionados com bens.

Quais são os passos mais importantes e únicos do processo de investimento e detalhes da filosofia?

Como mencionado acima, a nossa estratégia de Obrigações Globais segue um estilo de investimento global macro, sem referências e orientado por convicções. Como tal, podemos investir nas seguintes classes de ativos através de estratégias tanto longas como curtas:

  • Taxas globais (quer se trate de mercados emergentes ou desenvolvidos), incluindo estratégias de inflação
  • Mercados de crédito (crédito soberano ou crédito corporativo em todos os setores)
  • E, finalmente, as divisas, a classe de ativos que até agora tem feito a diferença neste ciclo ascendente

Para cumprir as suas funções, o fundo dispõe de todas as ferramentas necessárias para gerar valores de desempenho positivos numa variedade de condições de mercado (ao logo do horizonte de investimento aconselhado), com uma abordagem particularmente oportunista e ativa:

  • Um processo sem restrições.
  • Alocação tática, particularmente através de sobreposições.
  • Escolha fundamental dos títulos bottom-up.
  • Processo de gestão de risco robusto.

Por último, o fundo segue as seguintes diretrizes:

  • Duração modificada: -4 a 10.
  • Exposição a crédito estruturado: 0 a 10%.
  • Derivados de crédito: 0% a 30% (nos índices iTraxx e CDX).
  • Estratégias FX podem ser impulsionadoras do desempenho ou uma ferramenta de gestão de risco.

Como é que a vossa flexibilidade de alocação provou ser valiosa no passado?

Sermos capazes de gerir um fundo global macro fixed income verdadeiramente flexível foi fundamental em termos de gestão de drawdown durante este ano sem precedentes para os mercados de obrigações. Além disso, gostaria de salientar novamente que as divisas fizeram especialmente a diferença durante este ciclo ascendente. No contexto atual, o fundo Carmignac P. Global Bond teve uma posição global cautelosa em relação ao risco, com uma estratégia de duração mudificada baixa (mas gerida ativamente entre 1.5 e 4.5), exposição líquida baixa ao crédito, muitas vezes próxima do zero (graças às proteções sobre os índices CDS Xover, por exemplo) e uma exposição, gerida ativamente, a divisas relacionadas com bens e ao dólar norte-americano. Esta posição permitiu-nos resistir relativamente bem a este ambiente de volatilidade acrescida.