Embora muitos gestores e investidores continuem a esperar um potencial corte de taxas em junho, os recentes dados sobre a inflação não foram inteiramente um catalisador para a consolidação das apostas em futuros cortes.
Os últimos dados sobre a inflação americana voltaram a surpreender pela sua força. Os mercados reagiram negativamente aos números publicados esta semana, especialmente os americanos, com quedas de cerca de 0,9% e 1%, seguidos pelas restantes bolsas de ações. As yields das obrigações também reagiram, com subidas tanto nos EUA a dez anos (que alcançaram os 4,563%, tendo começado a semana em cerca de 4,36%) como na Alemanha (de 2,38% para 2,45% no mesmo período), com o dólar a subir.
Probabilidade de cortes de taxas em junho cai
Não obstante, é preciso relembrar que o indicador de inflação preferido da Reserva Federal não é o índice de preços do consumidor, mas sim o PCE (índice de preço sobre consumo pessoal), que a Fed tenta manter em 2% e que utiliza uma fórmula diferente e ponderações diferentes para os componentes, inclusive os que afetaram os recentes valores, como o seguro automóvel e aspetos relacionados com a habitação.
No entanto, a probabilidade de um corte das taxas de juro da Reserva Federal em junho caiu rapidamente abaixo dos 20%, segundo a ferramenta CME FedWatch e como nos informaram alguns gestores.
Para alguns gestores significa um atraso no primeiro corte
Para alguns gestores foi uma chapada de luva branca, como no caso da Janus Henderson, enquanto para a PIMCO existe a possibilidade de uma flexibilização mais gradual, e há mesmo quem tenha mudado a sua perspetiva para o primeiro corte de taxas para julho, como no caso da AXA IM.
“Ao mesmo tempo que a deflação dos bens básicos reduziu, a inflação dos serviços está a revelar-se rígida”, apontou Tiffany Wilding, economista na PIMCO. A profissional acrescenta que este relatório, juntamente com o relatório sobre o emprego, complica o calendário de cortes de taxas da Fed, e salienta que “haverá fortes razões para adiar a data do primeiro corte para depois da primeira metade do ano, o que reforça ainda mais as nossas perspetivas cíclicas, que previam que o banco central europeu vai flexibilizar a política monetária a um ritmo mais gradual do que os seus homólogos das economias de mercados desenvolvidos”.
Para Greg Wilensky, diretor de Obrigações Americanas e gestor de carteiras na Janus Henderson, os dados do IPC de março apenas mostram uma inflação ligeiramente superior à prevista, com um IPC subjacente que subiu 0,36% em termos dessazonalizados e que, embora seja um pequeno aumento de 0,4%, “foi uma chapada de luva branca para quem, como eu, esperava um primeiro corte de taxas em junho”, aponta. Mas destaca que os aspetos positivos foram a deflação modesta na categoria de bens básicos. Não obstante, não descarta por completo uma descida em junho.
“Para nós, isto é tanto uma surpresa como um desafio para as perspetivas da Reserva Federal”, assinalou David Page, chefe de Investigação Macroeconómica da AXA IM. Considera que os números divulgados não dão provas suficientes para sugerir que a inflação continua a descer para o objetivo e que é provável que a Fed precise de mais de dois relatórios suaves antes de ganhar confiança suficiente. Por isso, o especialista adia a sua expetativa do primeiro corte de taxas para julho.