Numa semana, diferentes profissionais dos diferentes departamentos do banco expuseram as suas opiniões e ideias em cinco webinars. João Lampreia, Rui Broega, João Calado, Gonçalo Correia e Eduardo Nunes resumem os seus seminários virtuais.
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João Lampreia, Chief Investment Strategist, BiG
“O grande decoupling entre Economia e Mercados - Análise e Perspetiva”
Antecipa-se uma recessão do PIB mundial entre 3% a 5%, uma vez que o efeito nas economias emergentes deverá ser mais contido e estas já representam 55% do output global. Neste particular, realce para o estágio mais adiantado da recuperação na China e em que a curva epidemiológica aparenta estar controlada. Ainda assim, a atividade na China encontra-se nos 70%-80% da capacidade e os níveis de mobilidade geral estão perto de metade face ao pré-Covid. Verifica-se igualmente uma alteração dos padrões de consumo da população que tem substituído produtos de luxo/premium por bens menos dispendiosos face ao ambiente recessivo. Todas estas tendências deverão ser replicadas na Europa e nos EUA nos próximos meses.
Esta crise vem igualmente agravar as tendências de comércio global que já estavam em perigo desde a eclosão das tensões comerciais Sino-Americanas. Mesmo que o Corona Vírus não represente o fim da Globalização, a retração do comércio internacional será entre 15%-30% em 2020 e deverá levar à criação de uma nova ordem em que se verifique um maior controlo regional sobre as cadeias de distribuição. A chamada “Regionalização Global” que substitui a Globalização.
A crescente interdependência dos Governos e dos Bancos Centrais será uma evidência – direta nos EUA e mais indireta no caso Europeu, mas é apenas uma inevitabilidade tendo em vista o esgotamento de todas as soluções alternativas para fazer face a este downturn. É a ascensão da Teoria Moderna Monetária e a Japonização da Europa (desde 2010) e agora até dos EUA.
As forças deflacionárias vigentes não invalidam que o nível histórico de criação de moeda nos próximos anos poderá levar a um risco crescente de bolhas especulativas, nomeadamente sobre ativos reais ou financeiros.
Desde a eclosão da crise humanitária reforçaram-se decouplings estruturais, entre os quais destacamos dois: i) decoupling ativos financeiros vs ambiente económico, uma vez que a ação dos Bancos Centrais acentuou a quebra dessa interligação e nível de avaliações parece interessar pouco face à liquidez sem paralelo injetada no sistema; ii) decoupling sector tecnológico vs tudo o resto, sendo que o pricing e valuation gap já se assemelha ao observado em 2000 – no pré-crise do período das dot.com.
Tal como o crash da bolsa de N.Y. em 1929 desencadeou anos mais tarde a ascensão dos regimes fascistas na Europa e uma nova Superpotência Mundial (EUA) ou o crash do mercado de MBS em 2007 nos EUA originou uma crise Soberana na Europa em 2010, estamos ainda longe de perceber o nível de interconexões complexas que representa o atual choque pandémico na emergência de riscos sociais, políticos e de bolhas especulativas em ativos financeiros/reais no pós-Covid.
Preferência por Obrigações Investment Grade e Equity US em temas do Covid World (Tech e Healthcare). Temas de investimento globais em Div. Yield, Value e ESG revelam-se interessantes.
Rui Broega, Diretor Coordenador de Asset Management, BiG
“Como alocar ativos num mundo pós-COVID-19”
A CRISE: O COVID-19 criou o maior choque global nos últimos 50 anos. Os mercados experimentaram sell-offs agressivos e períodos de volatilidade mais extremados despoletados pela incerteza em torno do impacto do vírus e das medidas para a sua contenção. Governos e Bancos Centrais estão a tomar medidas sem precedentes numa tentativa “360” para conter todos os impactos desta crise. Entramos num novo regime de investimento causado pela magnitude do choque e pela escala da resposta. Os investidores procuram equilibrar as suas carteiras para que possam persistir a uma volatilidade continuamente mais elevada e assim atingir os seus objetivos de longo-prazo.
A oportunidade: Cenário base é para uma recuperação em "U" com possibilidade de termos uma "base desse U" mais extensa. Privilegiamos oportunidades que nos permitam manter um carry relevante nas carteiras e sobretudo uma senioridade nos ativos que as compõem. O momento agitado vivido em março tipificou um conjunto de disfunções que poderão ser oportunidades de investimento para os próximos períodos, nomeadamente em Crédito Corporativo e Securitizado e Quality Equity:
- Quality: Yields baixas dão relevância ao mercado acionista para atingir os objetivos de retorno. Earnings no 1Q serão mais um vetor de “guidance” e apenas nos do 2Q ou 3Q teremos uma ideia mais concreta. Quality equity com balanços fortes e modelos de negócio mais competitivos são os preferidos para o nosso cenário base sendo relevante manter uma gestão ativa para explorar oportunidades de alpha num ambiente mais choppy. Num cenário mais bullish, o value (cíclico, financeiras e energia) que ficou muito barato e foi muito sacrificado neste sell off pode ser interessante.
- Crédito: Recessão única e sem comparação. Contrariamente à GCF os BCs reagiram imediatamente e em força. A liquidez está virtualmente garantida. Crédito IG maturidades curtas e Secutirizado US com spreads no 4º Quartil parecem interessantes em termos relativos e absolutos podendo estar relativamente suportados pela presença de um lender of last resort - os Bancos Centrais. Numa dimensão de alocação mais contida, Corporates Emergentes de curto-prazo são um play de carry muito interessante para posicionamentos em barbell.
João Calado, Head of Research, BiG
“COVID-19: Impacto no mercado acionista”
O impacto económico do vírus dependerá da evolução do nível de desemprego e a maior interrogação, nesta fase, prende-se com a forma e o tempo em que será retomada a nova “normalidade”. O efeito dos estímulos fiscais e monetários suavizará os cenários mais pessimistas.
Investir numa ação é investir num negócio, pelo que é necessário analisar os acontecimentos no longo prazo (>5 anos) e não com uma ótica de semanas, meses ou trimestres.
Crises e ciclos económicos são inevitáveis. No entanto, a decisão do investidor nestes momentos é absolutamente crucial para o seu próprio sucesso. Por exemplo, o investidor que vende as posições quando o mercado “mais cai” e as recompra no mês seguinte quando se sentir mais confortável terá uma performance bastante mais negativa do que caso se tivesse mantido sempre investido. Todos sabemos que é praticamente impossível vender antecipando quedas e comprar antecipando valorizações.
As empresas já passaram por diversas crises incluindo guerras mundiais, crises financeiras ou bolha tecnológica. Equipas de gestão competentes conseguem preparar os negócios para estas fases e ganhar vantagens comparativas face a competidores. Algumas empresas não conseguirão sobreviver e outras serão adquiridas numa lógica de M&A. A robustez do modelo de negócio e qualidade dos balanços de cada empresa revelam-se fundamentais e farão toda a diferença no sucesso de longo prazo. É por isso crucial a análise de cada empresa e negócio numa lógica bottom-up, não esquecendo a construção de carteiras diversificadas.
Gonçalo Correia, Trader Prop Desk, BiG
“Obrigações: Oportunidades e gestão de risco no atual contexto”
Apesar da rápida resposta do BCE para acomodar as necessidades de financiamento dos países da União Europeia, é evidente que será necessário um consenso político a nível europeu no que respeita à forma de financiamento adicional, necessária para atenuar o impacto negativo do lockdown económico do 2ºT. Dado o impacto económico esperado para a Zona-Euro (PIB deverá cair entre 6 a 10% em 2020), a necessidade de países como Espanha e Itália, mais afetados pela pandemia, terem necessidade de mais expansão fiscal, está a refletir-se no mercado de dívida, com os spreads para as yields da Alemanha a subirem para níveis pré-anúncio do PEPP. Com o tardar desta resposta política, o aumento do valor estipulado no PEPP (750€bi) será inevitavelmente aumentado por parte do BCE nos próximos meses.
Nos EUA, esta dinâmica é significativamente mais controlada, dada a coordenação entre o FED e o Tesouro norte-americano. O FED tem um programa de compras ilimitado (e bastante abrangente), estando por isso a acomodar a maioria das emissões de dívida necessárias para financiar um pacote fiscal que se aproxima já dos $2,8 tri (cerca de 14% do PIB).
No segmento de corporate bonds, os spreads de crédito comprimiram de forma significativa desde o mês de março. A resiliência de sectores defensivos é bastante evidente, casos dos sectores de Bens de Consumo e Healthcare, em que tipicamente os modelos de negócio são menos afetados numa recessão e que na conjuntura atual estão, nalguns casos, até a beneficiar, dada a natureza específica deste choque. Nos sectores industrial e de consumo discricionário, por outro lado, assistimos a um alargamento muito expressivo dos spreads de crédito, que tem persistido nas últimas semanas e que dependerá da velocidade a que a atividade económica retomará.
No que respeita a mercados emergentes, a queda generalizada e abrupta da procura por matérias-primas é um drag significativo nas economias destes países (sobretudo LatAm). Os países cuja economia é mais exposta à exportação de matérias-primas, sobretudo petróleo e metais, estão a ser obviamente mais afetados, o que se reflete nas yields destes países (Ex: México) e nas revisões de rating que se têm observado nas últimas semanas. Países com uma proporção significativa de dívida emitida em moeda estrangeira (na maioria dos casos em dólares) terão uma dificuldade acrescida em servir essa dívida nos próximos meses, o que se traduziu numa subida de yields que deverá persistir a médio-prazo.
Eduardo Nunes, Multi-Asset Sales Trader, BiG
“Oportunidades de trading em ações & matérias-primas”
Leitura das diversas fases de mercado originadas pelo covid-19:
- Fase 1 - Pico abrupto de volatilidade --> Pânico & liquidação de posições --> Equity sell-off (cash is king)
- Fase 2 - Fast Rebound motivado por i) estímulos económicos massivos que reduzem o tail risk e evitarão uma convergência para um âmbito depressionário ii) novidades menos desfavoráveis de carácter humanitário que apontam para a propagação da pandemia ser mais controlável iii) pressão compradora para com empresas tecnológicas teoricamente menos afetadas pelo Lockdown
- Fase 3 - O que aí virá?
- Bullish - recuperação económica a verificar-se; empresas a exteriorizarem uma guidance de recuperação para os próximos trimestres (mercado acionista mantém convergência para máximos), bem como deverá observar-se uma recuperação de um conjunto de matérias-primas e de sectores de perfil mais cíclico.
- Bearish - incapacidade de recuperação económica & perspetivas de difícil recuperação para diversas empresas --> rating de crédito ameaçado (BBB to Junk?) --> Liquidação de posições e sentimento negativo --> Governo obrigado a aumentar ainda mais os níveis de dívida. Neste contexto, ativos como Cash, Ouro & ativos que providenciem exposição ao âmbito blockchain poderão ser temas de investimento interessantes.