Chart of the Week - A recente queda nos share buybacks

Rina Guerra. Créditos: Cedida (Miguel Baltazar)

O Chart of the Week é da autoria de Rina Guerra, gestora de ações no Banco Carregosa.

Os montantes relativos a share buybacks, mais comuns nos EUA do que na Europa, têm caído nos últimos tempos, sobretudo se compararmos com os níveis realizados no pós-pandemia, com um recorde verificado no ano de 2022.

De acordo com dados preliminares do S&P Dow Jones Indices, as empresas do S&P 500 tinham comprado cerca de 175 mil milhões de dólares em ações próprias, no trimestre que terminou a 30 de junho, menos 20% que o mesmo período de 2022 e menos 19% que no primeiro trimestre de 2023. 

Será que esta desaceleração marca o início de uma nova tendência que perdurará no tempo? Se assim for, será mais um fator a pressionar os mercados acionistas.

Esta prática tem sido alvo de crescente controvérsia nos últimos anos, já que contribui para a valorização do título, pelo aumento da procura do mesmo por parte da sua empresa. Por outro lado, permite também melhorar a rentabilidade vista com base na métrica earnings per share já que as empresas que compram as suas ações, tendem a cancelar as mesmas, diminuindo o número de ações em circulação no mercado. Outra das críticas, é que a recompra de ações trava o crescimento económico e aumenta as desigualdades entre os vários stakeholders, já que consome recursos da empresa que poderiam ser usados na expansão da própria atividade ou no recrutamento de novos colaboradores.

Outro dos motivos que justificam esta queda recente nos share buybacks, é o ambiente atual de taxas de juro elevadas. As empresas enfrentam custos de dívida cada vez mais altos, pelo que uma percentagem maior dos recursos internamente gerados são encaminhados para o serviço de dívida, pelo menos no caso das empresas alavancadas.  Aliás, num mundo de taxas negativas ou nulas, fazia sentido as empresas alavancarem-se com o objetivo de usarem essa liquidez na realização de share buybacks. Essa realidade mudou. 

Em acréscimo, novos desafios, como a inteligência artificial ou os objetivos de alcançar a meta net zero em termos de pegada carbónica, têm também contribuído para a mudança de foco nos investimentos das empresas, tornando a recompra de ações menos prioritária do que noutros tempos.

Já na Europa, a prática mais comum é devolver capital aos acionistas via dividendos, embora estes sejam vistos como um instrumento menos flexível: se as condições de mercado mudarem e a empresa se vir obrigada a cortar ou a reduzir dividendos, a reação mais comum será a queda desse título no mercado. Por outro lado, os dividendos são uma forma de remuneração acionista mais onerosa, já que as taxas de imposto para o seu pagamento são mais pesadas (ainda que a administração Biden tenha criado um novo imposto sobre a recompra de ações de empresas americanas desde o início deste ano).