TRIBUNA de Stephan Fritz, Diretor de portefólios multiativos na Flossbach Von Storch. Comentário patrocinado pela Flossbach Von Storch. O mundo está vulnerável – e não apenas desde o aparecimento da COVID-19. Não se prevê que a situação mude num futuro próximo, portanto, a vida não ficará mais fácil para os investidores. A questão é: como devem […]
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TRIBUNA de Stephan Fritz, Diretor de portefólios multiativos na Flossbach Von Storch. Comentário patrocinado pela Flossbach Von Storch.
O mundo está vulnerável – e não apenas desde o aparecimento da COVID-19. Não se prevê que a situação mude num futuro próximo, portanto, a vida não ficará mais fácil para os investidores. A questão é: como devem reagir?
Na nossa opinião, os investidores têm três opções na hora de investirem o seu dinheiro. Primeira: confiar na omnipotência dos bancos centrais para resolverem qualquer crise. Segunda: apostar tudo na próxima grande crise do sistema financeiro. Terceira: optar por uma estratégia de investimento robusta, com uma gestão do risco que lhes permita sobreviver às crises mais ou menos ilesos e sem sacrificarem a maioria das potenciais rentabilidades.
Os investidores que optam pela primeira, estão a subestimar os riscos a longo prazo e a fragilidade do sistema financeiro. Ainda acreditam num mundo constante e a maioria dos seus ativos estão investidos em produtos que pagam juros, com rendimentos próximos de zero. O ambiente de taxas de juro zero não os preocupa muito: “vai ficar tudo bem”. As disrupções nas estruturas e tendências simplesmente passam ao lado do mundo destes investidores. Esta abordagem é conveniente, mas a longo prazo é um perigo para os ativos. Basicamente, este tipo de investidor comporta-se como um peru: desfruta da vida. Todos os dias come a sua refeição, até que chega o Natal e vai parar ao forno.
Os investidores da segunda estratégia fazem exatamente o contrário – estão sempre a contar com o pior e apostam num grande crash. Posicionam-se de acordo com os mercados futuros (isto é válido sobretudo para os investidores profissionais) ou organizam os seus ativos de forma monotemática. Por exemplo, investem tudo em ouro e enterram-no no jardim. O problema é que não sabem quando é que esse crash vai acontecer e quedas como a de março não se fazem por encomenda. Pode chegar muito mais tarde do que estes investidores pensam. E uma vez que esta tática pode sair muito cara, é possível que percam grande parte da aposta antes do crash.
Repartir o risco e identificar oportunidades de investimento
Resta uma terceira alternativa: uma estratégia de investimento robusta. Na sua essência, trata-se de uma carteira ampla, com várias classes de ativos e títulos individuais. Em períodos mais turbulentos, deve ser suficientemente resiliente para limitar as perdas a um nível aceitável, e isto foi evidente na primavera. Em momentos mais calmos, esta estratégia pode gerar boas rentabilidades. Mas como poderia ser esta estratégia em termos concretos?
Existem várias formas de investir de forma inteligente e as preferências pessoais e a perceção de risco de cada investidor não são menos importantes. A nossa intenção não é criar regulamentações. Em vez disso, queremos que as considerações que se seguem sejam entendidas como uma orientação – orientação essa que é o resultado do nosso conhecimento e experiência na gestão de ativos.
Acreditamos que uma estratégia de investimento deve seguir regras claras. Por exemplo, os ativos devem ser sempre amplamente diversificados. Não colocar tudo numa conta poupança. Não colocar tudo em obrigações, nem tudo em ações, nem tudo em metais preciosos. A diversificação reflete a visão dos investidores, que sabem que não é possível prever o futuro, mas querem estar o mais bem preparados possível. A isto chamamos uma abordagem tradicional multiativos.
No entanto, diversificar não significa apenas dividir os ativos entre várias classes de ativos e títulos individuais. Também significa uma alocação em várias zonas monetárias. Os investidores na zona euro fariam bem em não alocar todo o seu dinheiro na sua moeda local, mas também em moedas mais “robustas”.
Mas mesmo fazendo isso – dividindo os seus ativos por várias classes de ativos, títulos individuais e moedas –, têm de estruturar os componentes individuais de uma forma que faça sentido. Qual deve ser a percentagem de ações num cenário em que as taxas de juro foram efetivamente abolidas pelos bancos centrais? O que é que isto significa para a componente de obrigações, cuja função é estabilizar o desempenho da carteira? E que peso deve ter o investimento em ouro (também em relação a outras classes de ativos), para que este metal precioso possa exercer a sua função de garantia? A seleção de títulos individuais também é importante. Muitas vezes, construímos cenários nos quais os diferentes títulos se revelam semelhantes em termos de risco.
A composição de uma carteira resulta do ambiente do mercado de capitais: quais os fatores com maior influência nos mercados acionistas a longo prazo; que riscos devem ser evitados. A estrutura de ativos deve ter isto em conta e deve ser suficientemente flexível para adaptações ao longo do tempo.
Acreditamos que a qualidade do investimento é um fator-chave numa estratégia robusta. Na nossa opinião, a aposta (a curto prazo) em temas “que estão na moda” não é muito promissora no mercado bolsista e, muitas vezes, assemelha-se a uma aposta de casino. É muito mais importante olhar para a substância de um investimento, o nível de rentabilidade que gera a longo prazo e, acima de tudo, a sua previsibilidade. Os investidores devem perguntar-se sempre quão robustos são o modelo de negócio de uma empresa e os lucros que gera. Os dividendos são pagos de forma fiável e regular? A empresa é bem gerida? A longo prazo, a qualidade é o que mais importa. Isso também é válido para os investimentos. E é ainda mais válido desde que o mundo mudou por causa da COVID-19. O vírus ameaça não só a nossa saúde, mas também as empresas cujos modelos de negócio não são suficientemente robustos.
A flexibilidade também é relevante. Só os investidores que tenham uma almofada de liquidez vão conseguir tirar partido de oportunidades de investimento, caso estas surjam. Mais cedo ou mais tarde, é o que vai acontecer. Mas isso não é suficiente. Na nossa visão, o termo flexibilidade e, consequentemente, o termo liquidez devem ser interpretados de forma muito mais ampla. Qualquer investimento que possa ser interessante para um investidor deve ser analisado antes da compra em termos da facilidade em vendê-lo em caso de necessidade. Para que serve um investimento se não houver mercado para o mesmo numa emergência?
Os investidores também devem estar atentos à solvência – à sua própria solvência, mas também à solvência da entidade que emite as ações ou obrigações. A solvência é um pré-requisito da independência e capacidade de agir. Por outro lado, elevados níveis de dívida são a principal causa de falência e perda de ativos.
O preço é aquilo que pagamos, o valor é aquilo que recebemos. Tal como os bons empresários fazem quando compram e vendem os seus bens, acreditamos que os investidores também devem olhar com atenção para o valor das empresas nas quais pretendem investir. Poderá o preço estar significativamente superior ao valor do investimento? Ou o preço é razoável ou, ainda melhor, mais baixo do que o valor intrínseco? Os investidores nunca se devem guiar pelos exageros dos mercados acionistas. Devem sempre procurar o verdadeiro valor de um investimento.
Vai ser difícil sem ações
Os investidores que tenham tudo isto em conta – diversificação, qualidade do investimento, flexibilidade, solvência e valor – criam uma barreira imaginária contra as tempestades recorrentes nos mercados acionistas. Contudo, a proteção que esta barreira oferece não é sinónimo de ausência total de perdas. Infelizmente, esse tipo de proteção não existe, por muito que a desejássemos. Mas a barreira deve ser suficientemente forte para enfrentar tempestades.
O componente mais importante de uma carteira ampla é, provavelmente, ações de empresas de topo a longo prazo, para dar um exemplo de uma classe de ativos. Num mundo sem taxas de juro, estas estão a tornar-se cada vez mais relevantes, e até mesmo indispensáveis, para a preservação de ativos e acumulação de riqueza.
As valorizações no mercado bolsista têm subido substancialmente nos últimos anos; o rally depois da queda nos preços na primavera foi simplesmente excecional. Dependendo do índice acionista utilizado como referência, o PER médio está próximo, ou até acima, das médias históricas. É por isso que as ações são tão caras? Depende da empresa em questão, mais concretamente do desenvolvimento do seu negócio – fluxo de caixa, perspetivas de lucro e vendas.
Mas o balanço de uma empresa não é o único fator decisivo para a sua valorização de mercado; a taxa de juro também deve ser equacionada enquanto valor de referência. Por outras palavras, a atratividade do mercado acionista depende de quão atrativas são as alternativas de investimento disponíveis. Se os investidores conseguirem uma rentabilidade de 5% em obrigações governamentais a 10 anos (a taxas de inflação de 2%), vão hesitar, e bem, na hora de adquirir ações com valorizações acima da média. Mas e se essa mesma obrigação governamental já não tiver qualquer rentabilidade ou se os investidores ainda tiverem de pagar mais na maturidade?
Acreditamos que quanto mais baixo for o nível de rentabilidade (sustentável) das obrigações, mais elevada será a valorização das ações, desde que a sua qualidade seja boa. A robustez refere-se não só às várias classes de ativos e à sua composição, mas também aos títulos individuais. A carteira é a soma das partes.
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