Peter Bentley (BNY Mellon IM): “Não se trata de uma questão de direcionalidade do mercado, mas das oportunidades relativas que existem agora”

Peter Bentley
Peter Bentley. Créditos: Cedida (BNY Mellon IM)

Após uma correção historicamente dolorosa, os últimos meses para as obrigações têm sido de uma lenta recuperação. E agora, um momento de impasse, como o define Peter Bentley. Nem frio, nem quente. É certo que as yields das obrigações estão em níveis elevados se compararmos com os últimos 10 anos, mas encontramo-nos, ao mesmo tempo, na fase final do ciclo. É certo que a inflação está a diminuir a um bom ritmo após ter atingido os dois dígitos, mas a previsão do consenso é que não voltaremos à época de inflação zero. 

Ao nível das valorizações, os spreads do crédito estão no percentil 70 em comparação com o nível histórico. Ou seja, não estamos em níveis da grande crise financeira de 2008 ou de 2012, mas também não estão tão estreitos como em 2021. Também é preciso ter em conta o ponto do ciclo económico em que nos encontramos. Assim, o corresponsável de obrigações da Insight, afiliada da BNY Mellon IM, diria que as valorizações são justas para o atual contexto.

Por isso, embora acredite que o atual ponto possa ser uma oportunidade interessante para construir uma posição em obrigações com um horizonte a dois ou três anos, não acredita que seja o momento para entrar de forma generalizada. “Não esperamos assistir a um grande rally nas obrigações, mas isso não significa que não vejamos muitas oportunidades fruto da deslocalização. Não se trata de uma questão de direcionalidade do mercado, mas de oportunidades relativas que existem agora”, afirma Peter Bentley.

Oportunidades relativas

Na opinião do gestor, é preciso ser inteligente e preciso com as ideias que metemos em carteira. Ou seja, diferenciar entre uma estratégia passiva e generalizada de uma gestão ativa e tática. O exemplo perfeito de como se encontram joias entre o ruído é o mercado de high yield. Em linhas gerais, em fundos como o BNY Mellon Global Credit Fund, com Rating FundsPeople 2023, estão cautelosos com a dívida de maior risco, mas consideram interessantes algumas emissões no segmento de prazos curtos (entre zero e três anos).

Também estão a aproveitar a dispersão dentro de um próprio segmento. É o caso das curvas de taxas, onde observam valorizações mais atrativas na curva americana em comparação com a europeia. Curiosamente, no crédito acontece o contrário. Peter Bentley e a sua equipa encontram ideias mais atrativas em emissões em euros do quem em dólares. E, para ser mais específico, em dívida denominada em euros de empresas norte-americanas.

Os emergentes também são uma área que Peter Bentley destaca como interessante. A equipa gestora está a apostar tanto em obrigações emergentes em divisa local como em divisa forte após a forte correção. Mas principalmente em crédito, uma vez que encontram empresas com fundamentais sólidos, mesmo em comparação com os seus homólogos de países desenvolvidos e, além disso, a negociar com uma yield mais atrativa.

Setorialmente, também têm estado oportunistas na banca regional norte-americana após a crise de confiança de março. “A correção tem sido demasiada e generalizada e, no final do dia, estamos a falar dos dez maiores bancos dos Estados Unidos. São histórias muito diferentes da do SVB, com negócios mais sólidos e diversificados”, explica o gestor.