O que diferencia o selecionador de fundos português de outros selecionadores europeus?

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Monique Kooijmans, Flickr, Creative Commons

Os selecionadores de fundos europeus trabalham em mercados muito diferentes, o que se reflete nas suas preferências no que toca à seleção de ativos. Por várias vezes é atribuído aos profissionais portugueses um grau de sofisticação superior ao de homólogos ou mesmo de maior diversificação na escolha do produto. Se na próxima revista Funds People, que será brevemente distribuída, apresentamos uma lista com os produtos preferidos de mais de duas dezenas de selecionadores lusos, neste artigo expomos as principais tendências observadas entre os profissionais da seleção de fundos de várias nacionalidades - alemã, espanhola, francesa e portuguesa.

Alemanha volta apostar por risco

O inquérito realizado pela consultora Accelerando Associates a selecionadores alemães em maio deste ano reflete que uma maioria dos selecionadores consultados (65%) olham para o futuro com um otimismo, face a 26% que espera por momentos turbulentos. Isto explica que os selecionadores do terceiro maior mercado de fundos da Europa mostrem uma clara preferência por ativos de risco, com cerca de 65% a apostar por ações, 26% por investimentos alternativos e apenas 9% a optarem por obrigações.

Dentro das ações, as europeias são eleitas com 39% dos votos, estando logo depois as emergentes com 35% das preferências. A consultora destaca que 11% dos selecionadores alemães aposta por mercados fronteira, sobretudo tendo em conta os elevados resgates que sofreram os fundos de mercados emergentes no início do ano. Também chama a atenção que nenhum dos selecionadores inquiridos aposta por bolsa norte-americana.

Em obrigações, os selecionadores alemães optam por estratégias high yield, como foi visível durante um evento organizado pela Expert Invertor Europe em Frankfurt no passado mês de maio. Apesar dos preços da dívida high yield estarem em máximos, muitos investidores sentem-se atraídos por esta classe de ativos, dadas as baixas taxas de incumprimento que regista e a escassa rentabilidade que oferecem as obrigações de maior qualidade. A publicação britânica destaca que o apetite dos selecionadores de fundos alemães por high yield triplicou desde março (quando apenas 11% tinha previsto aumentar a sua alocação a esta classe de ativos nos próximos doze meses) e atribui esta alteração às baixas expectativas de inflação na Europa e Estados Unidos. 

As obrigações soberanas triunfam em Espanha

Apesar dos selecionadores espanhóis coincidirem com os seus colegas alemães na aposta por ações europeias, as diferenças são claras no tipo de títulos: enquanto que a maioria dos selecionadores germânicos optam por small caps, 59% dos selecionadores que participaram no recente evento da Expert Investor Europe em Madrid mostrou a sua preferência pelo aumento das suas alocações em empresas de grande capitalização, face a 18% que prefere as de pequena capitalização. Embora menos evidentes, as diferenças mantêm-se igualmente no que diz respeito a ações dos Estados Unidos. Parece que, em geral, os selecionadores espanhóis não veem muito mais valor nas pequenas empresas após as altas rentabilidades registadas nos últimos anos. Segundo explicam da Expert Investor Europe, o interesse dos selecionadores espanhóis pelas estratégias de ações 'long-only' também arrefeceu nos últimos meses e agora preveem aumentar a exposição a ações alternativas.

Outra classe de ativos que, surpreendentemente, mantém a sua popularidade entre os selecionadores espanhóis foi a de dívida soberana. Cerca de 58% dos selecionadores que participaram no evento mostraram-se positivos relativamente a esta classe de ativos, o que contraste com o sentimento geral no resto da Europa, onde a maioria dos selecionadores europeus estão a reduzir a sua exposição a dívida soberana ou não investem de todo na classe de ativos.

França encantada pela dívida emergente

De há uns meses a esta parte, os investidores europeus voltaram a mostrar algum interesse pelos mercados emergentes, mas os selecionadores francesas parecem sentir um verdadeiro entusiasmo pela dívida emergente. 57% dos selecionadores presentes no último evento da Expert Investor Europe em Paris prevê aumentar a sua alocação a obrigações corporativas de mercados emergentes nos próximos doze meses. Embora, à semelhança do que acontece noutros países da Europa, o apetite por obrigações soberanas destes mercados é mais ligeiro, com cerca de 38% dos profissionais gauleses a indicar a intenção de aumentar a sua exposição a esta classe de ativos.

Em ações, a percentagem dos selecionadores francesas que prevê aumentar as suas posições em ações de mercados emergentes no próximo ano passou de 19% em janeiro para 44% em junho. Ainda assim, as ações europeias continuam a ser "rainhas" e 56% dos inquiridos afirmam que aumentarão a sua alocação a esta classe de ativos num futuro próximo.

Portugal de olhos postos na América Latina

Em linha com outros países da Europa, as ações europeias continuam a ser a classe de ativos preferida entre os selecionadores portugueses, mas as ações de mercados emergentes são segundas em popularidade. 43% dos profissionais que participaram num evento organizado pela Expert Investor Europe em Lisboa no início de maio afirma que aumentará a sua exposição a esta classe de ativos no próximo ano, face a 27% que já o assegurava no mês de janeiro. De forma mais específica, os selecionadores nacionais estão de olhos postos na América Latina em detrimento das bolsas asiáticas. O Japão perde, assim, peso entre as preferências dos selecionadores portugueses e quatro em cada dez planeiam reduzir o investimento em ações nipónicas ou não estão mesmo a investir nesta geografia.

Em obrigações, os analistas da Expert Investor Europe encontram divergências entre as preferência dos investidores, que se deixam encantar pelas obrigações, e os selecionadores de fundos, que os evitam, especialmente as de mercados desenvolvidos. Esta aversão a obrigações estende-se também a crédito corporativo, onde 46% dos consultados está a diminuir as suas alocações ou não investem diretamente.

As estratégias de retorno absoluto não gozam da mesma popularidade em Portugal como noutros países europeus, mas os investidores voltam a olhar para a dívida de mercados emergentes na busca de rendimento e, pese a que o sentimento continue negativo tanto para a dívida soberana como corporativa, quase um quarto dos selecionadores portugueses inquiridos pensa aumentar o seu investimento no próximo ano, uma percentagem que aumenta até um terço no caso das obrigações high yield.