O Aktia Bank é uma das instituições bancárias com maior histórico e tradição na Finlândia. É, essencialmente, um banco de poupanças, e o ramo da gestão de ativos do grupo - a Aktia Asset Management – tem um grande foco nos institucionais, nomeadamente nos fundos de pensões. Este foi o enquadramento dado pelo responsável de Vendas Internacionais da gestora, Petri Aho, numa visita à solarenga Lisboa. Começou por descrever não só os 0 graus sentidos na Finlândia, mas também o processo de abrirem as portas dos seus fundos de mercados emergentes e mercados fronteira ao resto da Europa, uma viagem que começou há mais de seis anos.
Segundo o especialista, a filosofia dos fundos Aktia EM Local Currency Bond e Aktia EM Local Currency Frontier Bond está muito ligada ao facto de serem verdadeiros selecionadores de países. “A nossa extensa equipa olha para a dívida soberana de países, focando-se exclusivamente nesses países. Não olhamos para empresas”, começou por dizer. A segunda regra de investimento da casa passa por olhar para o longo prazo. “Não somos traders. O FX, que é uma parte importante quando falamos de dívida nestes mercados, é um risco e não um driver de retorno ou de rentabilidade”, sublinha. A terceira e última premissa também é fácil de compreender tendo em conta as anteriores: são agnósticos quanto a benchmarks. “Fazemos o processo à nossa maneira. Seguimos, claro, o contexto que o índice de referência nos oferece, mas se um índice segue um determinado país com um peso significativo, mas nós não acreditamos nos seus fundamentais, não o incluímos. Por isso, temos um tracking error bastante elevado face a outros investidores mais orientados por um índice”, destaca.
ESG: essencial também para a performance
Uma matriz também muito importante da casa - fazendo jus à tradição das casas de investimento nórdicas - é o ESG, e os fundos de dívida em foco não são exceção, embora o universo de investimento seja mais desafiante a esse nível. “O universo de green bonds disponíveis neste mercado é menor, e, claro, é redutor comparar, por exemplo, o Malawi com a Suécia, neste âmbito. Contudo, nos mercados emergentes o que fazemos é perceber a tendência, ou seja, se determinado país se está a tornar ou não melhor na governança , nos direitos humanos, etc.”, explica.
Dois exemplos em carteira desta preocupação são a Rússia e a China. No caso do primeiro, o responsável frisa que não se reveem no país em termos ESG, e desde 2014, aquando da anexação da Crimeia, que não investem em obrigações do tesouro russas. E colheram frutos dessa decisão em 2022, com a performance do fundo em moeda local a melhorar bastante. Na verdade, Petri Aho confessa que cedo começaram a “olhar para a América Latina, afastando-se da Europa de Leste e também da China”. Este último movimento foi mesmo o que apelida de uma “fonte de atribuição de performance importante”. Deixaram de investir na China não só por causa das questões ESG, mas também devido às desvalorizações. “As yields das obrigações chinesas estão muito baixas”, sublinha.
Modelo de semáforos guia o investimento
O processo de investimento parte de um modelo interno de avaliação fundamental de todos os países emergentes, com 50 atributos e variáveis diferentes. Esses parâmetros, diz-nos Petri Aho, submetem-nos também “à análise ESG e a análise dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, para validar os resultados”. Chegado ao universo investível, aplicam um trafic light model - modelo de semáforos, em português - “através do qual se definem os países amarelos e verdes” em que querem investir. Posteriormente, definem os países a vermelho, ou seja, os países cujas obrigações governamentais não podem comprar, mas cujas moedas são passíveis de investimento. Os países que são designados com a cor preta são considerados completamente impossíveis de investir.
Em ambos os fundos da casa, essencialmente, o investimento faz-se através do investimento em obrigações soberanas, mas há um plano para quando não o podem fazer. “Investimos em obrigações supracionais, como as do World Bank, EIB, etc., entidades que podem ter um projeto num país que queiram financiar, mas querem fazê-lo em moeda local, sem assumir esse risco da moeda”, explica o responsável. Deste modo, prossegue, a Aktia AM compra obrigações em moeda local, de um emitente com rating AAA. Contudo, Petri Aho enfatiza que isso “é uma exceção”, pois apenas o fazem porque estão “confortáveis com a segurança dada por essas entidades supranacionais”.
Outra das estratégias que têm à sua disposição é entrar na parte mais curta da curva de mercados monetários. “Fazêmo-lo através de non derivable forwards sobre o FX. Em primeiro lugar porque nalguns países não conseguimos comprar obrigações soberanas. É o caso da Tanzânia, onde não é permitido a maioria dos investidores estrangeiros comprarem”, diz. O segundo motivo, refere, tem que ver com o modelo fundamental em termos de país, pois podem considerar que não podem comprar uma obrigação do tesouro de determinado país, mas continuarem a “achar que as valorizações desse país são suficientemente boas para investir no seu mercado monetário”.
Posicionamento dos fundos
No Aktia EM Local Currency Bond, neste momento, as emissões investment grade rondam os 65% da carteira e, como explica o responsável, a grande sobreponderação em termos de países acontece na América Latina. Na Ásia, por sua vez, combatem a falta da China com investimentos na Malásia e Indonésia. “Funcionam como uma espécie de proxy para beneficiarmos do potencial da China, mas com melhores yields”, diz. No caso do Aktia EM Local Currency Frontier Bond, o especialista recorda que a atratividade dos mercados fronteira reside “no perfil de risco/retorno devido à baixa volatilidade e à elevada running yield to maturity destes mercados”. Essa baixa volatilidade, enfatiza, provém do facto de existir “um volume muito baixo de investidores estrangeiros nestes mercados”. “Muitas vezes somos o único investidor estrangeiro num determinado mercado fronteira”, diz a título de curiosidade.