O último ano foi, no geral, positivo para os ativos de risco, mas no último trimestre a incerteza começou a pairar sobre os investidores. Qual terá sido o comportamento da alocação dos fundos perfilados defensivos?
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Dezembro de 2020 e as gestoras internacionais lançavam o que perspetivavam para o ano 2021. Entre o otimismo e a cautela, algumas efetivamente esperavam o bom comportamento que as bolsas mundiais tiveram. Contudo, em muitas opiniões predominava o sentimento da incerteza. Após sensivelmente um ano dessas perspetivas, analisamos a evolução média da alocação dos fundos perfilados ao longo do último ano.
Com base em dados da Morningstar Direct de dezembro de 2021, e como já é habitual, iremos focar-nos nas classes de ativos e geografias das carteiras médias dos produtos. Utilizaremos a nossa habitual distribuição dos fundos perfilados nacionais pelos três perfis de risco, sendo esta a vez de olharmos para o perfil de risco mais conservador1.
Peso das obrigações em queda
Por esta altura do ano, não é nenhuma surpresa o peso das obrigações nas carteiras dos fundos perfilados estar em queda, mesmo quando falamos dos produtos mais conservadores. Afinal de contas, muito se questionou ao longo do último ano o papel que os instrumentos de fixed income ainda poderiam ter nas carteiras.
Como se pode ver no gráfico acima, onde está exibida a alocação por classes de ativos ao longo do ano, as obrigações perderam, em média, 4,4 pontos percentuais nas carteiras dos perfilados defensivos. Por outro lado, a alocação média foi favorecendo ações e liquidez, uma vez que aumentaram o seu peso, em média, 2,4 e 1,3 pontos percentuais, respetivamente.
Foi a partir de junho de 2021 que foi mais evidente esta rotação na alocação. Por exemplo, João Zorro, gestor do NB Conservador da GNB Gestão de Ativos, referia na ficha mensal do produto que, face ao positivo momentum dos mercados financeiros, “o fundo foi subindo a exposição a ações e a dívida corporate, assim como reforçou a exposição a dívida pública”.
Já o gestor do BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM da BPI Gestão de Ativos mencionava que ainda preferia deter alguma liquidez, “com o objetivo de proteger a carteira e para estar preparado para novas oportunidades”.
Alocação geográfica das ações
Relativamente à componente acionista, a região a que os gestores dos fundos perfilados defensivos mais aumentaram a exposição foi à América do Norte – aumentando 1,3 pontos percentuais desde janeiro de 2021. Também aumentaram a preponderância à Europa desenvolvida, mas em menor expressão (0,3 p.p.).
Este movimento foi bem visível de setembro para outubro. Um movimento reforçado pelo facto das "divulgações dos resultados empresariais referentes ao 3.º trimestre acabarem por confirmar a forte dinâmica de crescimento com a maioria das empresas a elevarem as suas projeções de crescimento para este e para os próximos anos", referia o gestor do Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Moderado na ficha mensal de outubro.
Alocação geográfica das obrigações
No caso da alocação da componente obrigacionista, a exposição a obrigações da Europa Desenvolvida foi aquela que mais alteração sofreu ao longo do ano. A exposição máxima que atingiu foi no início do ano, em fevereiro, cerca de 51% sendo que, a partir daí o peso destas obrigações vieram sempre a decrescer, em média, chegando aos 43,5% em dezembro. Por outro lado, tal como na componente acionista, a exposição à região americana aumentou.
De facto, o gestor do IMGA Alocação Conservadora, Pedro Vieira, CFA, em novembro comentava que as taxas de juro se encontravam "a níveis mais baixos e os spreads de crédito e os mercados acionistas a níveis mais atrativos". Acrescentava também que "momentos de incerteza revelam-se muitas vezes de oportunidade", pelo que favoreceu uma postura flexível ao longo do ano, o que permitiu adaptar o portefólio aos vários acontecimentos.
Alocação das obrigações por categoria
No que diz respeito à alocação de obrigações por subcategoria, foram registadas significativas variações ao longo do ano. Efetivamente, apenas as obrigações corporativas aumentaram, em média, o seu peso nas carteiras destes fundos, desde janeiro a dezembro de 2021. A exposição máxima a que estes 14 fundos perfilados alcançaram a este tipo de obrigações foi de 45%, em novembro de 2021. Altura em que a incerteza sobre a inflação e a estagflação começou a pairar sobre os investidores.
Já as obrigações soberanas são as grandes perdedoras do ano, uma vez que, em média, a sua preponderância diminui 4,7 pontos percentuais nas carteiras, sendo que não chegaram a ultrapassar os 33% de preponderância.
1De recordar que, em 2021, incluídos nesta análise estão os seguintes fundos perfilados: Bankinter 25 PPR/OICVM, BPI Reforma Obrigações PPR/OICVM, Caixa Defensivo PPR/OICVM, Caixa Wealth Defensivo, Caixa Seleção Global Defensivo, NB Conservador, IMGA Alocação Conservadora, Montepio Multi Gestão Prudente, Optimize Capital Reforma PPR/OICVM Moderado, Optimize Selecção Defensiva, os Popular Global 5 e 75, Santander Private Defensivo, Santander Select Defensivo e o Smart Invest PPR/OICVM Conservador.